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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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280 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

Deus se nos mantém oculta, e nenhuma doutrina ilumina nossa vereda,<br />

toda a vida humana está perdida e mergulhada em erro. Aliás,<br />

não sabemos fazer outra coisa senão errar, enquanto a lei não nos<br />

revelar a vereda do reto viver. Paulo, porém, está certo em dizer que<br />

<strong>de</strong>scobrimos os nossos <strong>de</strong>svios assim que o pecado é iluminado pela<br />

lei, visto que somente quando o Senhor nos convence francamente<br />

a encarar a lei é que temos consciência <strong>de</strong> nossos erros. O verbo<br />

ἐξαπατν, portanto, <strong>de</strong>ve ser entendido não da lei propriamente dita,<br />

mas <strong>de</strong> nosso conhecimento da lei, visto que ela nos revela o quanto<br />

nos <strong>de</strong>sviamos do curso certo. Portanto, é preciso que traduzamos o<br />

verbo [enganar] da seguinte forma: o pecado nos <strong>de</strong>sviou do caminho,<br />

pois é a partir da lei que os pecadores, que anteriormente seguiam<br />

seu caminho displicentemente, apren<strong>de</strong>m a viver <strong>de</strong>sgostosos e<br />

insatisfeitos consigo mesmos, porque, assim que a lei revelou a<br />

imundícia do pecado, foram apressados para a morte. O apóstolo<br />

novamente introduz o termo ocasião, para que saibamos que a lei<br />

não é em si mesma causa <strong>de</strong> morte, senão que sua conexão com a<br />

morte é adventícia e contingente <strong>de</strong> outros fatores. 15<br />

12. Por conseguinte, a lei é santa. Alguns intérpretes acreditam<br />

que há uma duplicação das palavras lei e mandamento. Concordo 16<br />

15 Este versículo será melhor entendido se o consi<strong>de</strong>rarmos como sendo <strong>de</strong> certo modo<br />

uma repetição, em outra forma, do que contém o versículo anterior, e isso é perfeitamente<br />

consistente com o costume usual do Apóstolo. Seu objetivo parece ter sido <strong>de</strong><br />

prevenir uma má interpretação do que ele dissera, a saber: que o mandamento que era<br />

para a vida, provou ser para a morte. Ele então diz que o pecado se valeu do mandamento<br />

e por meio <strong>de</strong>le o enganou, ou, seja, lhe prometeu vida, e então o matou, ou, seja, provou<br />

ser-lhe fatal. Há uma correspondência <strong>de</strong> significado entre o mandamento para a vida e<br />

enganar, e entre a morte e matar. No versículo 8, o pecado, como uma pessoa, diz-se tirar<br />

vantagem do mandamento para operar todo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos pecaminosos; aqui, porém,<br />

que tirar esse proveito é enganá-lo, prometendo-lhe vida e então <strong>de</strong>struindo-o, expondo-o<br />

e sujeitando-o à morte e miséria.<br />

16 Isso é sem dúvida verda<strong>de</strong>iro; e é um exemplo <strong>de</strong> que o modo <strong>de</strong> o Apóstolo escrever é<br />

aquele dos antigos profetas. Quão variadas são as palavras usadas no Salmo 119 para<br />

<strong>de</strong>signar a lei ou a vonta<strong>de</strong> revelada <strong>de</strong> Deus, sendo duas palavras diferentes às vezes<br />

usadas no mesmo versículo.<br />

Havendo falado da lei em conexão com o pecado, o Apóstolo po<strong>de</strong>ria supor ter tido o<br />

caráter do pecado em vista ao caracterizar a lei. O pecado opera <strong>de</strong>sejos e lascívias <strong>de</strong>pravados;<br />

a lei é santa; o pecado engana e age como traidor; a lei é franca e justa; conduz<br />

à morte e miséria; a lei é boa e conduz à felicida<strong>de</strong>. O último contraste é evi<strong>de</strong>nte à luz do<br />

que se segue no próximo versículo: “O que é bom se me tornou em morte?”

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