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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 1 • 67<br />

evangelho é “o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus para a salvação.” Se porventura buscarmos<br />

a salvação, ou, seja, a vida com Deus, <strong>de</strong>vemos antes buscar a justiça, por<br />

meio da qual possamos reconciliá-lo conosco e tomar posse <strong>de</strong>ssa vida<br />

que consiste exclusivamente em sua munificência, a saber, em ser-nos ele<br />

favorável. Para sermos amados por Deus, <strong>de</strong>vemos antes ser justos diante<br />

<strong>de</strong> seus olhos, porquanto ele o<strong>de</strong>ia a injustiça. Significa, pois, que não<br />

po<strong>de</strong>mos obter a salvação <strong>de</strong> nenhuma outra fonte senão do evangelho,<br />

visto que Deus <strong>de</strong> nenhuma outra parte nos revelou sua justiça, a qual é a<br />

única que nos livra da morte. Esta justiça, a base <strong>de</strong> nossa salvação, é revelada<br />

no evangelho, daí dizer-se que o evangelho é o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus para<br />

a salvação! Dessa forma, nosso argumento se move da causa para o efeito.<br />

Notemos ainda mais quão raro e valioso é o tesouro que Deus nos<br />

conce<strong>de</strong> em seu evangelho, ou, seja: a comunicação <strong>de</strong> sua justiça.<br />

Pela expressão justiça <strong>de</strong> Deus entendo aquela justiça que é aprovada<br />

em seu tribunal, 30 ao contrário daquela que é atribuída e reputada<br />

30 “A justiça <strong>de</strong> Deus”, δικαιοσύνη θεου̑, tem propiciado ocasião <strong>de</strong> muito labor para os críticos,<br />

porém sem razão. O próprio contexto é suficiente para mostrar seu significado,<br />

sendo que o evangelho revela, e o que o evangelho revela é sobejamente conhecido à<br />

luz <strong>de</strong> outras passagens. Se dissermos que ele é a justiça que é aprovada por Deus, como<br />

diz Calvino, ou provi<strong>de</strong>nciada por Deus, ou planejada por Deus, ou imputada por Deus,<br />

materialmente o significado não difere; e, aliás, todas essas coisas, como se faz evi<strong>de</strong>nte<br />

à luz das Escrituras, são verda<strong>de</strong>iras no que tange a ela.<br />

Há muita dificulda<strong>de</strong> com as seguintes palavras: ἐκ πίστεως εἰς πίστιν. O ponto <strong>de</strong> vista que<br />

Calvino endossa foi adotado por alguns dos pais, tais como Teofilato e Clemente <strong>de</strong> Alexandria;<br />

e é o <strong>de</strong> Melancthon, Beza, Scaliger, Locke e muitos outros. Em Poole <strong>de</strong>scobrimos que<br />

Crisóstomo fez esta exposição: “Des<strong>de</strong> a fé obscura e incipiente do Velho Testamento à fé<br />

clara e plena do Novo”; e a exposição <strong>de</strong> Ambrósio foi a seguinte: “Des<strong>de</strong> a fé ou fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Deus que promete à fé daquele que crê.” Mas em todos esses pontos <strong>de</strong> vista não há<br />

aquilo que se harmonisa com o texto nem a construção é muito inteligível – “revelado da<br />

fé”, o que po<strong>de</strong> significar? Para tornar a passagem inteligível, ἐκ πίστεως tem <strong>de</strong> ser conectado<br />

com δικαιοσύνη θεου, como Hammond sugeriu, e seguido por Doddridge e Macknight.<br />

Então fica assim: “A justiça <strong>de</strong> Deus pela fé, ou a qual é pela fé.” isso é revelado no evangelho<br />

“para a fé”, ou seja, a fim <strong>de</strong> que ele seja crido; que é às vezes a força <strong>de</strong> εἰς antes <strong>de</strong> um<br />

substantivo; como εἰς τήν ἀνομίαν – a fim <strong>de</strong> praticar a perversida<strong>de</strong>; ou εἰς ἁγιασμόν – a fim<br />

<strong>de</strong> praticar a santida<strong>de</strong> [Rm 4.18]. Chalmers, Stuart, Barnes e Haldane assumem este ponto<br />

<strong>de</strong> vista. O versículo po<strong>de</strong> ser assim traduzido:<br />

Pois a justiça <strong>de</strong> Deus pela fé é nela revelada a fim <strong>de</strong> ser crida,<br />

como está escrito: “O justo pela fé viverá.”<br />

A mesma verda<strong>de</strong> é comunicada no capítulo 3.22; e uma fraseologia similar se encontra<br />

em Filipenses 3.9.<br />

Barnes parece expressar plenamente a substância da passagem nestas palavras: “O plano<br />

<strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> justificar os homens é revelado no evangelho, plano esse mediante a fé, e<br />

cujos benefícios se esten<strong>de</strong>rão a todos quantos têm fé ou crêem.”

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