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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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188 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

partipantes <strong>de</strong>sta graça, visto que foram recebidos em sua família<br />

pela mesma profecia que conferiu a herança <strong>de</strong> Abraão a sua progênie.<br />

Afirma-se que Abraão foi <strong>de</strong>signado o pai não só <strong>de</strong> uma nação,<br />

mas <strong>de</strong> muitas. Por isso a futura extensão da graça, que naquele<br />

tempo se restringia exclusivamente a Israel, era prefigurada, porquanto<br />

não podiam ser contados como família <strong>de</strong> Abraão a não ser<br />

que a bênção prometida fosse estendida também a eles. O tempo<br />

passado do verbo, segundo o uso comum da Escritura, <strong>de</strong>nota a<br />

infalibilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sígnio divino. Embora não houvesse naquele<br />

tempo a mínima evidência que reforçasse tal coisa, todavia, visto<br />

que o Senhor o havia assim <strong>de</strong>cretado, diz-se corretamente que<br />

Abraão fora <strong>de</strong>signado o pai <strong>de</strong> muitas nações. Coloquemos entre<br />

parênteses a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Moisés, <strong>de</strong> modo que esta sentença seja<br />

lida sem interrupção: “Que é o pai <strong>de</strong> todos nós diante daquele em<br />

quem ele creu, sim, em Deus.” Era necessário explicar também a<br />

forma daquela relação, ou, seja: para que os ju<strong>de</strong>us não viessem<br />

a gloriar-se excessivamente em seu <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte físico. Ele, pois,<br />

diz que Abraão é “o pai <strong>de</strong> todos nós diante <strong>de</strong> Deus”, significando<br />

“nosso pai espiritual”, pois ele <strong>de</strong>sfruta este privilégio, não através<br />

<strong>de</strong> sua relação física conosco, mas mediante a promessa <strong>de</strong> Deus. 14<br />

17. Perante aquele em quem creu, isto é, o Deus que vivifica<br />

os mortos. O propósito <strong>de</strong>sta perífrase, na qual se expressa a própria<br />

14 Transparece <strong>de</strong> Pareus e Hammond que alguns dos pais, tais como Crisóstomo e Teofilato,<br />

consi<strong>de</strong>ravam κατέναντι no sentido <strong>de</strong> ὁμοίως, como, e traduziram a passagem assim:<br />

“como Deus, em quem ele creu”; isto é, visto que Deus não é parcial, mas o Pai <strong>de</strong> todos,<br />

assim Abraão também foi. Mas esse significado não é consistente com o sentido<br />

<strong>de</strong> κατέναντι, nem com o contexto. A preposição se encontra em outros quatros lugares,<br />

Marcos 11.2; 12.41; 13.3; Lucas 19.30, e invariavelmente significa antes <strong>de</strong>, diante <strong>de</strong>, ou ao<br />

contrário, contra. A Septuaginta a usa em Números 25.4, no sentido <strong>de</strong> antes <strong>de</strong>, κατέναντι<br />

του̑ ἡλίου – “antes do sol”, “não ao contrário do ou contra o sol”, como em nossa versão;<br />

pois a palavra no hebraico é dgn, coram, in conspectu. O contexto também requer esse<br />

signficado. Abraão foi um pai <strong>de</strong> muitas nações diante <strong>de</strong> Deus, ou à vista <strong>de</strong> ou em consi<strong>de</strong>ração<br />

a Deus, e não à vista e estima dos homens, porque Deus, como já se disse no<br />

final do versículo, consi<strong>de</strong>ra as coisas que não são como se fossem. Daí Abraão já era à<br />

vista <strong>de</strong> Deus, segundo seu propósito, o pai <strong>de</strong> muitas nações.<br />

A colocação das palavras, diz Wolfius, é um exemplo <strong>de</strong> classicismo, sendo a palavra θεου̑<br />

separada <strong>de</strong> sua preposição; e ο é expressa em lugar <strong>de</strong> pela lei gramatical <strong>de</strong> atração;<br />

e Stuart apresenta três exemplos similares do ser relativo regulado pelo caso <strong>de</strong> seu substantivo,<br />

ainda que o prece<strong>de</strong>ndo na sentença [Mc 6.16; At 21.16; e Rm 6.17].

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