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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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294 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

22. Tenho prazer 30 na lei <strong>de</strong> Deus. Vemos aqui, pois, a natureza<br />

do conflito existente nas mentes piedosas, cuja luta entre o espírito e<br />

a carne <strong>de</strong>u origem ao que Agostinho alhures <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “a batalha<br />

cristã”. A lei convoca o homem para o governo da justiça; a iniqüida<strong>de</strong>,<br />

que é a lei tirânica <strong>de</strong> Satanás, <strong>de</strong>sperta-o para a [prática da]<br />

perversida<strong>de</strong>. O espírito o conduz a ren<strong>de</strong>r obediência à lei divina;<br />

a carne o atrai a uma direção oposta. Visto sentir-se embalado por<br />

variados <strong>de</strong>sejos, o homem é agora uma criatura dupla. Todavia, uma<br />

vez que seu espírito <strong>de</strong>ve exercer a soberania, ele julga e estima a si<br />

mesmo por esse prisma. O apóstolo diz que ele é mantido prisioneiro<br />

<strong>de</strong> sua carne. Porque, diante do fato <strong>de</strong> ser ainda tentado e incitado<br />

pelos maus <strong>de</strong>sejos, tal se <strong>de</strong>ve ao constrangimento em relação ao<br />

<strong>de</strong>sejo espiritual que se lhe opõe inteiramente. 31<br />

30 “Consentio”, συνήδομαι: não é o mesmo verbo do versículo 16; este significa mais que<br />

consentir, pois inclui satisfação e <strong>de</strong>leite. Veja-se Salmo 1.2. O verbo se encontra somente<br />

aqui. A versão <strong>de</strong> Macknight: “Eu estou satisfeito com”, é muito frágil e inexpressiva; a <strong>de</strong><br />

Stuart é melhor: “Eu tenho prazer em”; nossa versão comum, porém, é melhor: “Eu me<br />

<strong>de</strong>leito em.”<br />

A γὰρ aqui seria melhor traduzida “na verda<strong>de</strong>”. O Apóstolo faz uma <strong>de</strong>claração quanto a<br />

seu princípio mais elevado; e então no versículo seguinte ele <strong>de</strong>clara mais plenamente o<br />

que dissera no versículo 21. Isso correspon<strong>de</strong> exatamente ao seu modo usual em discutir<br />

temas. Primeiro ele <strong>de</strong>clara uma coisa em termos gerais; e em seguida em termos mais<br />

particulares, ou mais específicos, e com algo adicional.<br />

31 Há quem consi<strong>de</strong>ra a conclusão do versículo 23: “à lei do pecado que está em meus<br />

membros”, como uma paráfrase para “a si mesmo”, como o Apóstolo a <strong>de</strong>screve no início<br />

como a lei em seus membros. E a razão que se po<strong>de</strong> alegar para a repetição é dupla:<br />

preservar a distinção entre ela e “a lei da mente” na cláusula prece<strong>de</strong>nte; e dar-lhe um<br />

caráter mais distintivo, <strong>de</strong>nominando-a “a lei do pecado”. De fato encontramos uma gradação<br />

no modo em que ela é apresentada. No versículo 21, ele a chama simplesmente<br />

“uma lei”; neste versículo ele primeiro a chama “outra lei em seus membros”, e então “a<br />

lei do pecado em seus membros”.<br />

A construção do versículo 21 é difícil. Pareus cita Crisóstomo, a qual supõe que σύμφηναι do<br />

versículo 16 <strong>de</strong>ve ser entendido segundo “a lei”, <strong>de</strong> modo que faz esta tradução: “Descubro,<br />

pois, que a lei concorda comigo em <strong>de</strong>sejar fazer o bem” etc., ou, seja, que a lei <strong>de</strong> Deus<br />

estava <strong>de</strong> seu lado, “ainda que o mal estivesse presente com ele”. Ele, pois, apresenta seu<br />

próprio ponto <strong>de</strong> vista, sendo em essência aquele <strong>de</strong> Agostinho. Ele supõe que ὅτι καλὸς,<br />

do versículo 16, <strong>de</strong>va ser entendido segundo “a lei”, e que ὅτι, na última cláusula, <strong>de</strong>va ser<br />

construída “ainda que”. Então o versículo <strong>de</strong>ve ser traduzido assim: “Descubro, pois, que<br />

a lei é boa e faz <strong>de</strong>sejar fazer o bem, ainda que o pecado esteja presente comigo.” O versículo<br />

tomado sozinho po<strong>de</strong> apresentar um bom sentido, porém nenhum que se harmonize<br />

com o contexto, ou que forme parte do argumento do Apóstolo. A outra única construção<br />

que merece ser notada é a <strong>de</strong> nossa versão e a <strong>de</strong> Calvino, e é a única que correspon<strong>de</strong> ao<br />

contexto. Foi adotada por Beza, Grotius, Venema, Turrettin, Doddridge e outros.

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