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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 4 • 169<br />

Se isso lhe foi imputado para justiça, segue-se que a única base <strong>de</strong><br />

sua justiça consistia em sua confiança na munificência divina e em<br />

sua ousadia em esperar todas as coisas como provindas <strong>de</strong> Deus.<br />

Moisés não relata o que os homens pensavam <strong>de</strong> Abraão, mas,<br />

sim, o caráter que ele possuía diante do tribunal divino. Abraão,<br />

pois, apo<strong>de</strong>rou-se da bonda<strong>de</strong> divina que lhe era oferecida na<br />

promessa, e por meio da qual percebeu que a justiça lhe estava<br />

sendo comunicada. A fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o significado <strong>de</strong> justiça,<br />

é indispensável que se entenda esta relação entre promessa e fé,<br />

porquanto existe a mesma relação entre Deus e nós, assim como<br />

judicialmente existe entre o doador e o recipiente. Alcançamos a<br />

justiça somente porque ela nos é comunicada pela promessa do<br />

evangelho, e assim discernimos que a possuímos pela fé. 5<br />

Já expliquei, e pretendo explicar mais plenamente, se porventura<br />

o Senhor mo permitir, quando tratar da Epístola <strong>de</strong> Tiago, como<br />

<strong>de</strong>vemos conciliar a presente passagem com aquela epístola, como<br />

se houvesse entre elas alguma contradição. Cabe-nos simplesmente<br />

notar que aqueles a quem a justiça é imputada são justificados, visto<br />

que Paulo usa estas duas expressões como sinônimas. Concluímos<br />

daqui que a questão não é o que os homens inerentemente são, e,<br />

sim, como Deus os consi<strong>de</strong>ra, não porque pureza <strong>de</strong> consciência e<br />

integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida sejam distintas do gracioso favor <strong>de</strong> Deus, mas<br />

porque, quando se busca a razão pela qual Deus nos ama e por que<br />

ele nos reconhece, é necessário que Cristo seja contemplado como<br />

Aquele que nos veste com sua própria justiça.<br />

5 s observações prece<strong>de</strong>ntes contêm um lúcido e satisfatório ponto <strong>de</strong> vista do caráter<br />

da fé <strong>de</strong> Abraão, perfeitamente consistente com o que Paulo diz <strong>de</strong>la neste capítulo e na<br />

epístola aos Gálatas. Alguns pensam que o princípio da fé era a única coisa que o apóstolo<br />

tinha em vista ao reportar à fé <strong>de</strong> Abraão, e que não tinha uma consi<strong>de</strong>ração especial<br />

pelo objeto da fé que justifica, ou, seja, Cristo. Mas que Cristo lhe foi, em certa medida,<br />

revelado é evi<strong>de</strong>nte à luz do relato dado em Gênesis e à luz do que Cristo mesmo disse, a<br />

saber: que Abraão viu seu dia e se regozijou [Jo 8.56]. Ao mesmo tempo, foi a promessa<br />

<strong>de</strong> graciosa misericórdia, como Calvino sugere, que formou o mais distintivo objeto da<br />

fé <strong>de</strong> Abraão: a promessa <strong>de</strong> um livre arrependimento, sem qualquer consi<strong>de</strong>ração para<br />

com as obras. Há duas coisas que o apóstolo claramente queria mostrar – que a imputação<br />

da justiça é um ato <strong>de</strong> favor gratuito; e que ela é adquirida tão-somente pela fé.

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