27.05.2014 Views

Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo 9 • 379<br />

que Esaú merecia ser rejeitado, porquanto era, por natureza, filho<br />

da ira. Não obstante, a fim <strong>de</strong> evitar ainda alguma sombra <strong>de</strong> dúvida,<br />

como se a condição <strong>de</strong> Esaú fosse pior em razão <strong>de</strong> algum vício ou<br />

<strong>de</strong>formação, era conveniente que Paulo excluísse os pecados não<br />

menos que as virtu<strong>de</strong>s. É verda<strong>de</strong> que a causa imediata <strong>de</strong> reprovação<br />

consiste na maldição que todos nós herdamos <strong>de</strong> Adão. Não obstante,<br />

o apóstolo nos poupou <strong>de</strong>ste conceito, até que aprendamos a <strong>de</strong>scansar<br />

exclusiva e simplesmente no beneplácito divino e até que ficasse<br />

estabelecida a doutrina <strong>de</strong> que Deus tem uma causa suficientemente<br />

justa para situar a eleição e a reprovação em sua própria vonta<strong>de</strong>. 11<br />

Para que o propósito <strong>de</strong> Deus quanto à eleição prevalecesse. Em<br />

quase cada palavra ele insiste com seus leitores sobre a soberania<br />

da eleição divina. Caso as obras tivessem algum espaço, então ele<br />

teria dito: “para que a remuneração esteja relacionada com as obras”.<br />

Não obstante, ele põe em confronto as obras [humanas] e o propósito<br />

divino, o qual se acha contido exclusivamente em seu próprio beneplácito.<br />

E para que não houvesse motivo para contenda sobre o tema,<br />

ele removeu toda e qualquer dúvida ao acrescentar outra sentença:<br />

segundo a eleição, e então uma terceira: não por obras, mas por<br />

aquele que chama. Portanto, consi<strong>de</strong>remos o contexto mais <strong>de</strong>tidamente.<br />

Caso o propósito divino segundo a eleição fosse estabelecido<br />

em razão <strong>de</strong> que, mesmo antes que os irmãos houvessem nascido e<br />

11 Usher formula a pergunta: “Deus, antes <strong>de</strong> haver feito o homem, <strong>de</strong>terminou salvar alguns<br />

e rejeitar outros?” A isso ele formula esta resposta: “Sim, certamente; antes que tivessem<br />

feito o bem ou o mal, Deus, em seu eterno conselho, os separou.” É o mesmo sentimento<br />

enunciado aqui por Calvino. Mas <strong>de</strong>duzir isso do que foi dito <strong>de</strong> Jacó e Esaú não parece<br />

legítimo, visto que estavam por natureza numa condição apóstata, e a referência,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, é feita a nada praticado pessoalmente por eles. A eleição e reprovação<br />

mui claramente pressupõe o homem como caído e perdido; é daí, aliás, que as palavras<br />

<strong>de</strong>rivam seu significado. Que foi o eterno propósito <strong>de</strong> Deus escolher alguns <strong>de</strong>ntre a<br />

raça caída do homem e <strong>de</strong>ixar outros perecerem nos é claramente ensinado; mas esta<br />

é uma questão diferente daquela focalizada aqui – que esse propósito era in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da queda do homem –, sentimento esse que, até on<strong>de</strong> eu o vejo, não é reconhecido nem<br />

ensinado na Escritura. E não só Calvino, mas muitos outros doutores, tanto antes como<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, parecem ter ido nessa direção um tanto além dos limites da revelação. É proce<strong>de</strong>nte,<br />

por um processo <strong>de</strong> raciocínio aparentemente óbvio; mas quando começamos a<br />

arrazoar sobre este sublime e misterioso tema, nos vemos logo <strong>de</strong>snorteados e perdidos<br />

em labirintos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!