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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 8 • 321<br />

não foi dado para molestar-nos com o medo ou atormentar-nos com<br />

a ansieda<strong>de</strong>, mas, ao contrário, para acalmar nossa intranqüilida<strong>de</strong>,<br />

para trazer nossas mentes a um estado <strong>de</strong> paz e incitar-nos a clamar<br />

a Deus com confiança e liberda<strong>de</strong>. O apóstolo, pois, não só prossegue<br />

o argumento no qual tocara <strong>de</strong> leve, mas também insiste mais sobre<br />

a outra causa que, ao mesmo tempo, conectara com esta, ou seja:<br />

aquela que trata da complacência paternal <strong>de</strong> Deus, pela qual ele<br />

perdoa em seu povo as enfermida<strong>de</strong>s da carne e os pecados sob os<br />

quais eles ainda labutam. Nossa confiança nessa clemência divina,<br />

ensina-nos Paulo, se converte naquela certeza <strong>de</strong> que o Espírito <strong>de</strong><br />

adoção opera em nós, o qual não nos obrigaria a viver em oração<br />

sem antes selar-nos com o perdão gracioso. Para que este ponto<br />

fosse ainda mais evi<strong>de</strong>nte, o apóstolo afirma que há dois espíritos.<br />

A um ele chama o espírito <strong>de</strong> escravidão, o qual po<strong>de</strong>mos receber da<br />

lei; e o outro, o espírito <strong>de</strong> adoção, o qual proce<strong>de</strong> do evangelho. O<br />

primeiro, afirma ele, foi outrora concedido para produzir temor; o<br />

segundo é agora concedido para proporcionar segurança. A certeza<br />

<strong>de</strong> nossa salvação, a qual ele <strong>de</strong>seja confirmar, <strong>de</strong>sponta, como po<strong>de</strong>mos<br />

ver, 17 com gran<strong>de</strong> niti<strong>de</strong>z daquela comparação <strong>de</strong> opostos.<br />

A mesma comparação é usada pelo autor da Epístola aos Hebreus,<br />

ao dizer que não temos que aproximar-nos do Monte Sinai, on<strong>de</strong><br />

tudo é por <strong>de</strong>mais terrível, e on<strong>de</strong> o povo, assombrado como que<br />

diante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> morte, implorou que a palavra não<br />

lhes fosse proferida, e quando o próprio Moisés confessou que se<br />

sentia dominado pelo terror, “senão que nos acheguemos ao monte<br />

17 Pelo termo Espírito, πνευ̑μα (sem o artigo), Agostinho, Beza e outros enten<strong>de</strong>m como sendo<br />

o Espírito Santo; e assim também Calvino. Então “o Espírito <strong>de</strong> escravidão” significa<br />

a ação do Espírito em cuja administração era escravidão; e “o Espírito <strong>de</strong> adoção” <strong>de</strong>ve<br />

significar o Espírito, aquele que conce<strong>de</strong> a adoção. Mas po<strong>de</strong>mos tomar espírito, aqui,<br />

em ambos os exemplos, como é amiú<strong>de</strong> tomado, no sentido <strong>de</strong> disposição ou sentimento;<br />

segundo a expressão: “o espírito <strong>de</strong> mansidão” – πνεύματι πρᾳότητος [1Co 4.21], e “o<br />

espírito <strong>de</strong> temor” – πνευ̑μα δειλίας [2Tm 1.7]. A palavra para adoção, υἱοθεσία, po<strong>de</strong> ser<br />

traduzida por filiação, como Lutero prefere. E como o espírito <strong>de</strong> mansidão significa um<br />

espírito manso, assim po<strong>de</strong>mos traduzir as duas cláusulas aqui “um espírito servil” e “um<br />

espírito filial”. Ao mesmo tempo, po<strong>de</strong> ser preferível tomar o ‘espírito’ totalmente como o<br />

Espírito divino, como em vários exemplos ele <strong>de</strong>va evi<strong>de</strong>ntemente ser tomado.

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