17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Direitos e Garantias Fundamentais 7 3<br />

Com relação a esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção à privacida<strong>de</strong> humana, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que as informações fiscais e bancárias, sejam as constantes nas próprias<br />

instituições financeiras, sejam as constantes na Receita Fe<strong>de</strong>ral ou organismos congêneres<br />

do Po<strong>de</strong>r Público, constituem parte da vida privada da pessoa física ou jurídica.<br />

Como salienta Celso Bastos,<br />

“não é possível aten<strong>de</strong>r-se tal proteção (intimida<strong>de</strong>) com a simultânea vigilância<br />

exercida sobre a conta bancária ou as <strong>de</strong>spesas efetuadas com cartões <strong>de</strong> crédito<br />

pelo cidadão”, pois “a doação feita a um partido político ou a uma seita religiosa (...)<br />

po<strong>de</strong>ria ser i<strong>de</strong>ntificada pelos órgãos fazendários que estariam <strong>de</strong>svendando uma<br />

vonta<strong>de</strong> secreta do benemérito”, e continua sua exposição dizendo “do atraso <strong>de</strong><br />

pagamento da fatura <strong>de</strong> um cartão <strong>de</strong> crédito, ou <strong>de</strong> uma duplicata por dificulda<strong>de</strong>s<br />

financeiras, ou da existência <strong>de</strong> saldo bancário <strong>de</strong>sfavorável po<strong>de</strong>ria ter ciência a<br />

União se houvesse a quebra do sigilo bancário e creditício, implicando, senão a<br />

comunicação a outros órgãos ou a adoção <strong>de</strong> medidas, ao menos o conhecimento<br />

<strong>de</strong> fatos relevantes e embaraçosos relativos à intimida<strong>de</strong>”.5<br />

Lembremo-nos, ainda, que inúmeras informações bancárias são fornecidas pelos<br />

Correios (extratos, contas a pagar, comprovante <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos etc.), bem como dados relativos<br />

à Receita Fe<strong>de</strong>ral (confirmação da restituição ou saldo <strong>de</strong>vedor ao Fisco), e caso não<br />

estivessem protegidos pelo sigilo bancário e fiscal, respectivamente, estar-se-ia, sobretudo,<br />

<strong>de</strong>srespeitando-se a inviolabilida<strong>de</strong> das correspondências.<br />

Igualmente ao sigilo bancário, as informações relativas ao sigilo fiscal somente po<strong>de</strong>rão<br />

ser <strong>de</strong>vassadas em caráter excepcional e nos estritos limites legais, pois as <strong>de</strong>clarações<br />

prestadas para fins <strong>de</strong> imposto <strong>de</strong> renda revestem-se <strong>de</strong> caráter sigiloso, e somente motivos<br />

excepcionais justificam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso por terceiros,6 havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

autorização judicial, <strong>de</strong>vidamente motivada7 no interesse da Justiça.8<br />

Como ressaltou a Ministra Ellen Gracie, há necessida<strong>de</strong> do endosso do Po<strong>de</strong>r Judiciário<br />

para a quebra do sigilo bancário em procedimentos administrativos na esfera tributária.9<br />

Conforme <strong>de</strong>cidiu o STF, afastando <strong>de</strong>terminação do Tribunal <strong>de</strong> Contas da União, o sigilo<br />

dos contribuintes somente po<strong>de</strong>rá ser quebrado nas hipóteses <strong>constitucional</strong>mente<br />

autorizadas ao Po<strong>de</strong>r Legislativo (CPI) ou por or<strong>de</strong>m judiciária,10 uma vez que, conforme<br />

<strong>de</strong>stacado pelo Ministro Celso <strong>de</strong> Mello, “a transgressão, pelo Po<strong>de</strong>r Público, ainda que<br />

em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> fiscalização tributária, das restrições e das garantias <strong>constitucional</strong>mente<br />

5 BASTOS, Celso. Estudos e pareceres <strong>de</strong> <strong>direito</strong> público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 63.<br />

6 Antigo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Recursos, A I n° 49.479/SP, ReL M in. Eduardo Ribeiro, Diário da Justiça. 2 1 out.<br />

1986, p. 14.442; A I n° 49.641/PR, R ei. Min. Eduardo Ribeiro, Diário da Justiça, 2 out. 1986, p. 18.198.<br />

7 STJ - 3a T . - Resp 1028315/B A -R el.M in .N an cyA n drigh i, <strong>de</strong>cisão: 14-6-2011. Conferir, ainda: T S E -P len o<br />

- A gravo Regim ental no Recurso Especial Eleitoral 7875839-60/DF - ReL Min. M arcelo Ribeiro, <strong>de</strong>cisão: 3-2-<br />

2011; Antigo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Recursos, A I nD49.312/SP, R ei. Min. lim a r Gal vão, Diário da Justiça, 29 maio<br />

1986, p. 9.161; A I nD59.766/SP, ReL Min. lim ar G alvão, D iário da Justiça, 25 abr. 1989, p. 6.063.<br />

8 S T F -2 a T. -RExtr. n s 92.377-2/SP-R eL Min, Moreira Alves, Diário da Justiça, Seção I, l°ju n . 1984, p. 8.729.<br />

9 STF - 2 “ T, - H C ns 85.088/ES - Rei. Min. Ellen Gracie, Diário da Justiça, Seção I, 30 set. 2005, p. 50.<br />

10 STF - MS 27091/DF - ReL Min Gilm ar Men<strong>de</strong>s.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!