17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Controle <strong>de</strong> Constitucionalida<strong>de</strong> 7 2 7<br />

em julgamento, interpretar a Carta Magna, a<strong>de</strong>quando e compatibilizando os <strong>de</strong>mais atos<br />

normativos com suas superiores normas.<br />

Posteriormente, em 1920, a Constituição austríaca criou, <strong>de</strong> forma inédita, um tribunal<br />

-Tribunal Constitucional - com exclusivida<strong>de</strong> para o exercício do controle judicial<br />

<strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis e atos normativos, em oposição ao sistema adotado pelos<br />

Estados Unidos, pois não se pretendia a resolução dos casos concretos, mas a anulação<br />

genérica da lei ou ato normativo incompatível com as normas constitucionais.1<br />

N o entanto, a consagração efetiva da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeição da vonta<strong>de</strong> parlamentar<br />

às normas constitucionais, com a consequente criação dos Tribunais Constitucionais<br />

europeus, ocorreu após a constatação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira crise na <strong>de</strong>mocracia representativa<br />

e do consequente distanciamento entre a vonta<strong>de</strong> popular e as emanações dos órgãos<br />

legislativos, duramente sentida durante o período nazista.<br />

A inexistência <strong>de</strong> um controle jurisdicional <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis e atos<br />

normativos e <strong>de</strong> mecanismos que impedissem a criação <strong>de</strong> uma ditadura da maioria auxiliou<br />

na criação do Estado Totalitário alemão, sem que houvesse quebra da legalida<strong>de</strong><br />

formal, <strong>de</strong>monstrando a necessida<strong>de</strong> da adoção do judicial review pela Lei Fundamental<br />

alemã <strong>de</strong> 1949.<br />

Otto Bachof afirma que<br />

“o facto <strong>de</strong> haver sido justamente um acto do legislativo - a chamada lei <strong>de</strong> autorização<br />

- que <strong>de</strong>sarticulou (aus <strong>de</strong>n Angeln gehoben hat) <strong>de</strong>finitivamente, e sob uma<br />

aparência <strong>de</strong> preservação da legalida<strong>de</strong>, a Constituição da República <strong>de</strong> Weimar<br />

po<strong>de</strong> ter contribuído para dotar o Tribunal Constitucional Fe<strong>de</strong>ral, como guarda<br />

da Constituição, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res extraordinariamente amplos precisamente face ao<br />

legislador”.12<br />

Como salienta Garcia <strong>de</strong> Enterría,<br />

“o fracasso do sistema weimariano <strong>de</strong> justiça <strong>constitucional</strong> (especialmente visível<br />

no famoso juízo <strong>de</strong> 1932, sobre o chamado golpe <strong>de</strong> Estado do Reich contra a<br />

Prússia <strong>de</strong> Von Papen, legitimado nas Or<strong>de</strong>nações presi<strong>de</strong>nciais autorizadas pelo<br />

famoso artigo 48 da Constituição), levou a República Fe<strong>de</strong>ral alemã, surgida no<br />

1 KELSEN , Hans. Teoriapura do <strong>direito</strong>. São P au lo : M artin s F o n tes, 1 9 8 5 . p. 2 8 8 .<br />

2 BACHOF, O tto. Normas constitucionais inconstitucionais? C oim bra: A lm edina, 1 9 9 4 . p. 1 2 . Igu al en ten d im en to<br />

é exp osto por G ilm ar F e rreira M en d es: “N ão se p o<strong>de</strong> dizer co m c e rte z a se o s aliados tiv eram a lg u m a in flu ê n cia<br />

n a in stitu ição da C o rte C o n stitu cio n al, ta l co m o ad m itid o p o r Rid <strong>de</strong>r. É c e rto , to d a v ia , q u e a a v a lia ç ã o n eg ativ a<br />

feita pelo P arlam en tarisch er R a t so b re a C o n stitu ição <strong>de</strong> W eim ar in flu en cio u fo rte m e n te a d e cisã o em favor da<br />

in stitu içã o <strong>de</strong> um a ju risd iç ã o co n stitu cio n a l” (M EN D ES, G ilm ar F e rreira . Jurisdição <strong>constitucional</strong>: o co n tro le<br />

ab stra to <strong>de</strong> n o rm as no B rasil e n a A lem an h a. S ã o P au lo : S a ra iv a , 1 9 9 6 . p . 1 0 ) . F ran ço is L u ch aire, a o d efen d er<br />

a n ecessid ad e <strong>de</strong> um ó rg ão in d ep en d en te p a ra tu te la r os d ireito s fu n d a m e n ta is, fa z e ssa m esm a re ssa lv a , c ita n ­<br />

do o exem p lo da A lem an h a n a z ista , q u e, em b o ra se te n h a in sta la d o segu ndo um p ro ced im en to p erfeita m en te<br />

co n stitu cio n a l, e ten d o sido o p ró p rio P arlam en to q u em su sp en d eu as liberda<strong>de</strong>s individ uais, a ca b o u p or g erar<br />

to ta l d esv irtu am en to d as le is, co m co n seq u en te v io la çã o a o s d ireito s fu n d am en tais (E l c o n sejo co n stitu cio n al<br />

fra n cês. In: v á rio s a u to res. Tribunales constitutionales europeos y <strong>de</strong>rechos fundamentales. M adri: C en tro <strong>de</strong><br />

E stú d io s C o n stitu cio n ales, 1 9 8 4 . p . 5 7 ) .

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!