17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Administ ração Pública 3 4 3<br />

<strong>de</strong>spesas <strong>de</strong>sse tipo, entrar na difícil análise dos fins que inspiraram a autorida<strong>de</strong>;<br />

o ato em si, o seu objeto, o seu conteúdo, contraria a ética da instituição, afronta a<br />

norma <strong>de</strong> conduta aceita como legítima pela coletivida<strong>de</strong> administrada. Na aferição<br />

da imoralida<strong>de</strong> administrativa, é essencial o princípio da razoabilida<strong>de</strong>.”1<br />

O Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, analisando o princípio da moralida<strong>de</strong> administrativa,<br />

manifestou-se afirmando:<br />

“Po<strong>de</strong>r-se-á dizer que apenas agora a Constituição Fe<strong>de</strong>ral consagrou a moralida<strong>de</strong><br />

como princípio <strong>de</strong> administração pública (art. 37 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral).<br />

Isso não é verda<strong>de</strong>. Os princípios po<strong>de</strong>m estar ou não explicitados em normas.<br />

Normalmente, sequer constam <strong>de</strong> texto regrado. Defluem no todo do or<strong>de</strong>namento<br />

jurídico. Encontram-se ínsitos, implícitos no sistema, permeando as diversas<br />

normas regedoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada matéria. O só fato <strong>de</strong> um princípio não figurar<br />

no texto <strong>constitucional</strong>, não significa que nunca teve relevância <strong>de</strong> princípio.<br />

A circunstância <strong>de</strong>, no texto <strong>constitucional</strong> anterior, não figurar o princípio da<br />

moralida<strong>de</strong> não significa que o administrador po<strong>de</strong>ria agir <strong>de</strong> forma imoral ou<br />

mesmo amoral. Como ensina Jesus Gonzales Perez ‘el hecho <strong>de</strong> su consagración<br />

en una norma legal no supone que con anterioridad no existiera, ni que por tal<br />

consagración legislativa haya perdido tal carácter’ (El princípio <strong>de</strong> buenafe en el<br />

<strong>de</strong>recho administrativo. Madri, 1983. p. 15). Os princípios gerais <strong>de</strong> <strong>direito</strong> existem<br />

por força própria, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> figurarem em texto legislativo. E o fato<br />

<strong>de</strong> passarem a figurar em texto <strong>constitucional</strong> ou legal não lhes retira o caráter <strong>de</strong><br />

princípio. O agente público não só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar<br />

que possui tal qualida<strong>de</strong>. Como a mulher <strong>de</strong> César.”12<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral, ao consagrar o princípio da moralida<strong>de</strong> administrativa como<br />

vetor da atuação da administração pública, igualmente consagrou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção<br />

à moralida<strong>de</strong> e responsabilização do administrador público amoral ou imoral. Anota<br />

Manoel <strong>de</strong> Oliveira Franco Sobrinho,<br />

“Difícil <strong>de</strong> saber por que o princípio da moralida<strong>de</strong> no <strong>direito</strong> encontra tantos<br />

adversários. A teoria moral não é nenhum problema especial para a teoria legal.<br />

As concepções na base natural são analógicas. Porque somente a proteção da legalida<strong>de</strong><br />

e não da moralida<strong>de</strong> também? A resposta negativa só po<strong>de</strong> interessar aos<br />

administradores ímprobos. Não à Administração, nem à or<strong>de</strong>m jurídica. O contrário<br />

seria negar aquele mínimo ético mesmo para os atos juridicamente lícitos. Ou negar<br />

a exação no cumprimento do <strong>de</strong>ver funcional.”3<br />

Dessa forma, <strong>de</strong>ve o Po<strong>de</strong>r Judiciário, ao exercer o controle jurisdicional, não se<br />

restringir ao exame estrito da legalida<strong>de</strong> do ato administrativo, mas, sim, enten<strong>de</strong>r por<br />

1 DI PIETRO, M aria Sylvia Zanella. Discricionarieda<strong>de</strong> administrativa na Constituição <strong>de</strong> 1988. São Paulo:<br />

Atlas, 1991. p. 111.<br />

2 STF - 2 a T. - RExtr n a 160.381- SP, Rei. Min. Marco Aurélio, v. u ,;PTJ 153/1.030.<br />

3 FRANCO SOBRINHO, M an oel <strong>de</strong> Oliveira. O princípio <strong>constitucional</strong> da moralida<strong>de</strong> administrativa. 2. ed.<br />

Curitiba: Genesis, 1993. p. 157.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!