17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

104 Direito Constitucional • Moraes<br />

A prisão cautelar do extraditando reveste-se <strong>de</strong> eficácia temporal limitada, não po<strong>de</strong>ndo<br />

exce<strong>de</strong>r ao prazo <strong>de</strong> noventa (90) dias (Lei na 6.815/80, art. 82, § 2a), ressalvada<br />

disposição convencional em contrário, eis que a existência <strong>de</strong> Tratado, regulando a extradição,<br />

quando em conflito com a lei, sobre ela prevalece, porque contém normas específicas.1<br />

Entretanto, “com a instauração do processo extradicional, opera-se a novação do título<br />

jurídico legitimador da prisão do extraditando, <strong>de</strong>scaracterizando-se, em consequência,<br />

eventual excesso <strong>de</strong> prazo, pois é da natureza da ação <strong>de</strong> extradição passiva a preservação<br />

da anterior custódia que tenha sido cautelarmente <strong>de</strong>cretada contra o extraditando.12<br />

Excepcionalmente, porém, o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral enten<strong>de</strong>u possível a concessão<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> ao extraditando, <strong>de</strong>stacando que “a prisão preventiva para fins <strong>de</strong> extradição<br />

haveria <strong>de</strong> ser analisada caso a caso, sendo, ainda, a ela atribuído limite temporal, compatível<br />

com o princípio da proporcionalida<strong>de</strong>, quando seriam avaliadas sua necessida<strong>de</strong>,<br />

sua a<strong>de</strong>quação e sua proporcionalida<strong>de</strong> em sentido estrito”, para concluir que “em nosso<br />

Estado <strong>de</strong> Direito, a prisão seria uma medida excepcional e, por isso, não po<strong>de</strong>ria ser utilizada<br />

como meio generalizado <strong>de</strong> limitação das liberda<strong>de</strong>s dos cidadãos, não havendo<br />

razão, tanto com base na CF quanto nos tratados internacionais com relação ao respeito<br />

aos <strong>direito</strong>s humanos e a dignida<strong>de</strong> da pessoa humana, para que tal entendimento não<br />

fosse aplicado no que tange às prisões preventivas para fins <strong>de</strong> extradição”.3 Igualmente,<br />

enten<strong>de</strong>u nossa Corte Suprema conce<strong>de</strong>r liberda<strong>de</strong> provisória quando a prisão <strong>de</strong>monstrouse<br />

ina<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong>snecessária e <strong>de</strong>sproporcional,4 5e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prisão domiciliar<br />

em razão <strong>de</strong> grave doença cardiovascular e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção cirúrgica.3<br />

23.5 Atuação do judiciário na extradição<br />

O sistema extradicional vigente no <strong>direito</strong> brasileiro qualifica-se como sistema <strong>de</strong><br />

controle limitado, com predominância da ativida<strong>de</strong> jurisdicional, que permite ao Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral exercer fiscalização concernente à legalida<strong>de</strong> extrínseca do<br />

pedido <strong>de</strong> extradição formulado pelo Estado estrangeiro, mas não no tocante ao mérito,<br />

salvo, excepcionalmente, na análise da ocorrência <strong>de</strong> prescrição penal, da observância<br />

do princípio da dupla tipicida<strong>de</strong> ou da configuração eventualmente política do<br />

<strong>de</strong>lito imputado ao extraditando,6 ou ainda, na possibilida<strong>de</strong> excepcional <strong>de</strong> análise<br />

1 S TF-Habeas Corpus 73.552-5/SP, Rei. Min. Celso <strong>de</strong> Mello, Diário da Justiça, Seção 1,14fev. 1995, p. 2.730.<br />

2 S TF-H abeas Corpus 73.552-5/SP, Rei. M in. Celso <strong>de</strong> Mello, Diário da Justiça, Seção 1,14 fev. 1995, p. 2.730.<br />

E, ainda, S T F - Pleno -Habeas Corpus 71.402-RJ, R ei. M in. Celso <strong>de</strong> M ello , e RI.! 118/126.<br />

3 STF - Pleno - HC 91657/SP - Rei. Min. Gilmar M en<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>cisão 13-9-2007. Informativo STF n° 479<br />

4 STF - 2* T. - Ext. 1254 - QO/Romênia - Rei. Min. Ayres Britto, <strong>de</strong>cisão: 6-9-2011<br />

5 S T F -P le n o -E x t. 974 QO/República Argentina, rei. Min. Marco Aurélio, 19.12.2008,Informativo STF n° 533.<br />

6 Nesse sentido, <strong>de</strong>cidiu o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral que “ no sistema belga - ao qu al filiada a le i extradicional<br />

brasileira, não afetada pelo Tratado com a Itália - o papel da autorida<strong>de</strong> judiciária do Estado requerido se limita<br />

a um ju ízo <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong> extrínseca do pedido, sem penetrar no exame <strong>de</strong> m érito sobre a procedência, à luz das<br />

provas, da acusação form ulada no Estado requerente contra o extraditando: a rara e eventual <strong>de</strong>liberação acerca<br />

da substância da imputação faz-se na estrita necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> questões como a dúplice incriminação, da

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!