17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

734 Direito Constitucional • Moraes<br />

escravo) pu<strong>de</strong>sse ser privado <strong>de</strong> seus bens e <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong> (escravo), sem o <strong>de</strong>vido<br />

processo legaL Essa <strong>de</strong>cisão enten<strong>de</strong>u que os escravos <strong>de</strong>veríam ser consi<strong>de</strong>rados como<br />

proprieda<strong>de</strong> e não como cidadãos.1Como lembra Lêda Boechat, “foi tão gran<strong>de</strong> a perda <strong>de</strong><br />

prestígio da Corte, que ela custaria a recuperar a confiançapopular <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cisão”.12<br />

Durante esse intervalo <strong>de</strong> tempo, constituído pelas <strong>de</strong>cisões Marbury v. Madison e<br />

Scott v. Sandf ord, porém, a Suprema Corte firmou-se, sob a Presidência <strong>de</strong> Marshall, no<br />

exercício do controle <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong> dos atos governamentais, <strong>de</strong>cidindo sobre a ilegalida<strong>de</strong><br />

dos atos presi<strong>de</strong>nciais por violação expressa <strong>de</strong> legislação específica do Congresso (caso<br />

Little versus Barreme - 1804), e ainda firmando sua competência para analisar a <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> leis ou atos normativos estaduais, concedida pelo Congresso, na Seção<br />

25 da Lei Judiciária <strong>de</strong> 1789, nos casos Warre versus Hylton (1797), Fletcher versus Pech<br />

(1810), Martin versus Hunter’s Lessee (1816) e Cohens versus Virgínia (1821).3<br />

Essa consolidação da Corte <strong>de</strong> Marshall garantiu, efetivamente, ao Judiciário norte-<br />

-americano seu lugar entre os Po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Estado, pois como salienta Henry Abraham,<br />

“a principal arma à disposição da Corte Suprema na disputa ou no jogo da separação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res com controles e avaliações tem sido seu po<strong>de</strong>r dominante <strong>de</strong> revisão<br />

judicial, po<strong>de</strong>r somente existente no Judiciário <strong>de</strong> pouco países” 4<br />

No Brasil, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle difuso <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

primeira Constituição republicana <strong>de</strong> 1891, que em seu artigo 59,5 como ressaltou Rui<br />

Barbosa,<br />

“obriga esse tribunal a negar valida<strong>de</strong> às leis fe<strong>de</strong>raes, quando contrarias à Consti<br />

tuição, e as leis fe<strong>de</strong>raes são contrarias à Constituição, quando o Po<strong>de</strong>r Legislativo,<br />

adoptando taes leis, não se teve nos limites, em que a Constituição o autoriza a<br />

legislar, isto é, transpassou a competência, em que a Constituição o circunscreve”.6<br />

1 Scott v. Sandfbrd, 19 How. 393 (1857). Ressalte-se que somente as 13a e 14a Emendas à Constituição americana,<br />

adotadas em 1868, alteraram essa situação, ao estabelecer que “não haverá, nos Estados Unidos ou em<br />

qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição <strong>de</strong> um<br />

crime pelo qual o réu tenha sido <strong>de</strong>vidamente con<strong>de</strong>nado” e “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos<br />

Estados Unidos e sujeitas à sua jurisdição são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado on<strong>de</strong> tiverem residência.<br />

Nenhum Estado po<strong>de</strong>rá fazer ou executar leis restringindo os privilégios ou imunida<strong>de</strong>s dos cidadãos dos Estados<br />

Unidos; nem po<strong>de</strong>rá privar qualquer pessoa <strong>de</strong> sua vida, liberda<strong>de</strong> ou bens sem processo legal, ou negar a<br />

qualquer pessoa sob sua jurisdição a igual proteção das leis”.<br />

2 A Corte Suprema e... Op. cit. p. 66.<br />

3 Bernard Schwartz, por sua vez, aponta essa consolidação um pouco mais tar<strong>de</strong>, afirmando que “a verda<strong>de</strong><br />

é que o controle judicial exercido pela Corte Suprema dos Estados Unidos só se tornou um fator importante do<br />

po<strong>de</strong>r legislativo nacional por volta <strong>de</strong> 1890” (Direito... Op. cit. p. 257).<br />

4 ABRAHAM, Henry J. A Corte Suprema no evolutivo processo político. In: Vários autores. Ensaios sobre a<br />

Constituição dos Estados Unidos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 1978. p. 93.<br />

5 Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1891 - “Art. 59, § l 2 Das sentenças das justiças dos Estados em última instância haverá<br />

recurso para o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (b) quando se contestar a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leis ou <strong>de</strong> actos <strong>de</strong> governos<br />

dos Estados em face da Constituição, ou das leis fe<strong>de</strong>raes, e a <strong>de</strong>cisão do tribunal do Estado consi<strong>de</strong>rar validos<br />

esses actos, ou essas leis impugnadas.”<br />

6 BARBOSA, Rui. Commentários à ... Op. cit. v. 4. p. 23. Conferir, ainda, p. 127 ss (Asleis inconstitucionaes e<br />

a justiça fe<strong>de</strong>ral).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!