17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

504 Direito Constitucional • Moraes<br />

Saliente-se que a inabilitação, por oito anos, para o exercício <strong>de</strong> função pública, compreen<strong>de</strong><br />

todas as funções públicas, sejam as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> concursos públicos, sejam as <strong>de</strong><br />

confiança, ou mesmo os mandatos eletivos. Desta forma, o Presi<strong>de</strong>nte da República con<strong>de</strong>nado<br />

por crime <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o mandato, não po<strong>de</strong>rá candidatar-se<br />

ou exercer nenhum outro cargo político eletivo nos oito anos seguintes.1<br />

B .<br />

Histórico<br />

O impeachment surgiu no Brasil com base na Carta <strong>de</strong> 1891, segundo o mo<strong>de</strong>lo<br />

norte-americano, mas com características e peculiarida<strong>de</strong>s próprias, principalmente, em<br />

relação à <strong>de</strong>finição dos crimes <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, seu procedimento e julgamento que,<br />

no Brasil, serão <strong>de</strong>finidos por lei ordinária.<br />

A Constituição <strong>de</strong> Filadélfia já previa o instituto do impeachment (art. l e, Seção 3a;<br />

art. 2°, Seção 4a), que nos Estados Unidos da América foi tentado contra o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Andrew Johnson, em 1868, sem êxito, e, mais recentemente, no famoso caso Watergate,<br />

tendo o Presi<strong>de</strong>nte Nixon renunciado antes <strong>de</strong> se iniciar o processo, e contra o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Bill Clinton, também sem sucesso.<br />

No Brasil, as Leis nm 27 e 30, <strong>de</strong> 1892, regulamentadoras dos crimes <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />

cometidos pelo Presi<strong>de</strong>nte da República, previam a aplicação somente da pena<br />

<strong>de</strong> perda do cargo, po<strong>de</strong>ndo esta ser agravada com a pena <strong>de</strong> inabilitação para exercer<br />

qualquer outro cargo (art. 33, § 3e, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1891; art. 2- da Lei ne 30,<br />

<strong>de</strong> 1892), dando à pena <strong>de</strong> inabilitação o caráter <strong>de</strong> pena acessória (Lei ne 27, <strong>de</strong> 1892,<br />

arts. 23 e 24).<br />

Atualmente, a Lei ne 1.079/50, em seus arts. 2°, 31,33 e 34, não prevê a possibilida<strong>de</strong><br />

da aplicação da pena <strong>de</strong> perda do cargo, apenas, nem a pena <strong>de</strong> inabilitação assume caráter<br />

<strong>de</strong> acessorieda<strong>de</strong> (art. 52, parágrafo único, da Constituição <strong>de</strong> 1988).<br />

C. Natureza Jurídica<br />

Em relação à natureza jurídica do impeachment, a maioria da doutrina nacional<br />

enten<strong>de</strong> ser um instituto <strong>de</strong> natureza política. Entre os outros gran<strong>de</strong>s publicistas, po<strong>de</strong>mos<br />

citar Paulo Brossard,12 Themistocles Cavalcanti,3 Carlos Maximiliano,4 Michel<br />

Temer.5<br />

1 Nesse sentido <strong>de</strong>cidiu o STF: “A inabilitação para o exercício <strong>de</strong> função pública, <strong>de</strong>corrente da perdado cargo<br />

<strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da República por crime <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> (CF, art. 52, parágrafo único), compreen<strong>de</strong> o exercício<br />

<strong>de</strong> cargo ou mandato eletivo. Com esse entendimento, a Túrma m anteve o acórdão do TSE que julgou proce<strong>de</strong>nte<br />

a impugnação ao pedido <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> candidatura do ex-Presi<strong>de</strong>nte Fernando Collor <strong>de</strong> Mello. Interpretação<br />

racional do art. 52, parágrafo único, da CF“ ( I a T Rextr. n“ 234.223/DF- Rei, Min. O ctávio Gallotti, <strong>de</strong>cisão:<br />

1“ set. 1998 - Informativo STF n° 121 - setembro <strong>de</strong> 1998).<br />

2 BROSSARD, Paulo. O impeachment. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 76.<br />

3 CAVALCANTI, Themistocles Brandão. A Constituição Fe<strong>de</strong>ral comentada. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1948. p.<br />

263. v, 2.<br />

4 M AXIM ILIANO, Carlos. Comentários à Constituição brasileira... Op. cit. p. 643.<br />

5 TEMER, M ichel. Constituição e... Op. cit. p. 37-38.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!