17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

722 Direito Constitucional • Moraes<br />

como o recurso <strong>de</strong> amparo ou a Verfassungsbeschwer<strong>de</strong> alemã, o controle <strong>de</strong>senrola-se nos<br />

próprios processos ordinários civis, penais ou administrativos <strong>de</strong> forma inci<strong>de</strong>ntal, pela<br />

remessa dos autos à Corte Constitucional, concebido para resolver umaquestão prejudicial<br />

para a <strong>de</strong>cisão do procedimento em curso, garantindo-se, igualmente, a supremacia dos<br />

<strong>direito</strong>s <strong>constitucional</strong>mente protegidos.1<br />

Klaus Schlaih, analisando a proteção dos <strong>direito</strong>s fundamentais pelos <strong>de</strong>mais órgãos<br />

do Po<strong>de</strong>r Judiciário alemão aponta que a plena possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa hipótese constitui-se<br />

uma das inovações mais importantes da jurisprudência te<strong>de</strong>sca, pois os tribunais têm o<br />

<strong>direito</strong> e são chamados a aplicar diretamente a Constituição quando necessário, interpretando<br />

as leis ordinárias <strong>de</strong> acordo com o Direito Constitutional.12<br />

O controle difuso <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> no <strong>direito</strong> alemão caracteriza-se pela previsão<br />

da <strong>de</strong>nominada “questão <strong>de</strong> in<strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong>” {Richterklage). Os tribunais alemães,<br />

quando consi<strong>de</strong>rarem in<strong>constitucional</strong> uma lei, <strong>de</strong> cuja valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>penda a <strong>de</strong>cisão,<br />

terão <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r o processo e submeter a questão à <strong>de</strong>cisão do Tribunal Constitucional<br />

Fe<strong>de</strong>ral, quando se tratar da violação da Lei Fundamental.<br />

O controle difuso <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> alemão, apesar <strong>de</strong> mitigado em relação ao<br />

norte-americano, permite a análise sobre a <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis por todos os juizes<br />

e tribunais, porém, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> in<strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis é primazia do Tribunal<br />

Constitucional Fe<strong>de</strong>ral, pois como adverte Otto Bachof,<br />

“seria inexacto falar <strong>de</strong> um monopólio <strong>de</strong> controlo dos tribunais constitucionais,<br />

pois o controlo cabe em primeiro lugar ao tribunal <strong>de</strong> instância, só tendo este <strong>de</strong><br />

submeter a questão ao tribunal <strong>constitucional</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver ele próprio negado<br />

<strong>constitucional</strong>mente”.3<br />

Em síntese, como ensina Cappelletti, ao analisar a jurisdição <strong>constitucional</strong> alemã,<br />

“todos os juizes, e não apenas os juizes superiores, são legitimados a dirigir-se à Corte<br />

Constitucional, limitadamente às leis relevantes nos casos concretos submetidos a seu<br />

julgamento; e este julgamento será suspenso, enquanto a Corte Constitucional não tiver<br />

<strong>de</strong>cidido a questão prejudicial <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong>”.4<br />

O controle <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> configura-se, portanto, como garantia <strong>de</strong> supremacia<br />

dos <strong>direito</strong>s e garantias fundamentais previstos na constituição que, além <strong>de</strong> con<br />

figurarem limites ao po<strong>de</strong>r do Estado, são também uma parte da legitimação do próprio<br />

Estado, <strong>de</strong>terminando seus <strong>de</strong>veres e tornando possível o processo <strong>de</strong>mocrático em um<br />

Estado <strong>de</strong> Direito.5<br />

1 PIZZORUSSO, Alessandro. Tribunales <strong>constitucional</strong>es... Op. cit. p. 238.<br />

2 SCHLAIH, Klaus. Tribunales <strong>constitucional</strong>es... Op. cit. p. 134-136.<br />

3 BACHOF, O tto .Normas constitucionais inconstitucionais? Coimbra: Alm edina, 1994. p. 75.<br />

4 CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis no <strong>direito</strong> comparado. 2. ed. Porto<br />

A legre: Sérgio Fabris, 1992. p.109.<br />

5 CS. KELSEN, Hans. Teoria pura do <strong>direito</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 288-290; EISENMANN, Charles.<br />

La justice constitutionnelle et la haute cour constitutionnelle d’Autriche. Paris: Economica-Presses Universitaires<br />

d’A ix Marseille, 1986. p. 174; GARCIA DE ENTERRÍA, Eduardo. La Constitución como normay el tribunal cons-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!