17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

4 4 Direito Constitucional • Moraes<br />

normativas primárias, tanto no Executivo (medidas provisórias, <strong>de</strong>cretos autônomos),1<br />

quanto no Judiciário (po<strong>de</strong>r normativo primário do Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça).12<br />

8 TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA TORTURA (ART. 5°, III E X L III)<br />

O art. 52da Constituição Fe<strong>de</strong>ral prevê que ninguém será submetido a tortura nem<br />

a tratamento <strong>de</strong>sumano ou <strong>de</strong>gradante (inc. III); bem como que a lei consi<strong>de</strong>rará crimes<br />

inafiançáveis e insuscetíveis <strong>de</strong> graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito <strong>de</strong><br />

entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os <strong>de</strong>finidos como crimes hediondos, por eles<br />

respon<strong>de</strong>ndo os mandantes, os executores e os que, po<strong>de</strong>ndo evitá-los, se omitirem. O art.<br />

5a, XLIII, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral é uma norma <strong>constitucional</strong> <strong>de</strong> eficácia limitada, pois<br />

necessita da atuação do legislador infra<strong>constitucional</strong> para que sua eficácia se produza.<br />

Assim, quanto à inafiançabilida<strong>de</strong> e insuscetibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> graça ou anistia foi editada a lei<br />

dos crimes hediondos,3 porém, no tocante à <strong>de</strong>finição do crime <strong>de</strong> terrorismo e tortura,<br />

foi, ainda, necessária a edição <strong>de</strong> lei infra<strong>constitucional</strong>, <strong>de</strong> competência da União (art.<br />

22,1, da CF), tipificando-os, em razão do próprio preceito <strong>constitucional</strong> do art. 5a, XXXIX.<br />

Questão controvertida, <strong>de</strong>cidida pelo Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, consi<strong>de</strong>rou por<br />

maioria <strong>de</strong> votos (6 x 5), que já existe lei tipificando o <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> tortura, quando praticado<br />

contra criança ou adolescente, ao analisar a <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> do art. 233 do Estatuto<br />

da Criança e do Adolescente.4<br />

A controvérsia, porém, foi solucionada pelo legislador que, ao editar a Lei na 9.455, <strong>de</strong><br />

7-4-1997, <strong>de</strong>finiu os crimes <strong>de</strong> tortura (art. I a) e, expressamente em seu art. 4a, revogou<br />

o art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei na 8.069/90).<br />

Assim, o crime <strong>de</strong> tortura exige o constranger alguém com emprego <strong>de</strong> violência ou<br />

grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental.5<br />

Em nova importante <strong>de</strong>cisão sobre o tratamento <strong>constitucional</strong> da tortura, o Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral analisou a valida<strong>de</strong> da “Lei <strong>de</strong> Anistia”, tendo <strong>de</strong>cidido pelo “caráter<br />

bilateral da anistia, ampla e geral”, on<strong>de</strong> afirmou “o argumento <strong>de</strong>scolado da dignida<strong>de</strong><br />

da pessoa humana para afirmar a invalida<strong>de</strong> da conexão criminal que aproveitaria aos<br />

agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou<br />

1 S T F - A g R n 2 2.9 50/R J-R el. Min. M arco Aurélio, Diário da Justiça, Seção I, 9fev. 2007, p. 16; S T F -P le n o<br />

- A D I n2 2.564/DF - Rei. Min. Ellen G ra<strong>de</strong>, Diário daJustiça, Seção I, 6 fev. 2004, p. 21.<br />

2 STF - P le n o - A D C n 2 12/DF - medida cautelar, Rei. Min. Carlos Britto, <strong>de</strong>cisão: 16-2-2006.<br />

3 Lei n“ 8.072/90.<br />

4 S T F -P le n o -H C n2 70.389-5/SP, Rei. Min. Celso <strong>de</strong> M ello; j. 23-7-94, v. u. “EMENTA: Tortura contra criança<br />

ou adolescente - Existência jurídica <strong>de</strong>sse crime no Direito Penal Positivo brasileiro-Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua repressão<br />

- Convenções internacionais subscritas pelo Brasil - Previsão Típica constante do Estatuto da Criança e do<br />

Adolescente (L ei n“ 8.069/90, art. 233) - Confirmação da <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa norma <strong>de</strong> tipificação penal<br />

- Delito imputado a policiais militares - Infração penal que não se qualifica com o crime m ilitar - Competência<br />

da Justiça comum do Estado-membro - Pedido <strong>de</strong>ferido em parte.” Nesse sentido também: HC 74.332-RJ, Rei.<br />

Min. Néri da Silveira, 24 set. 96 - Informativo STF n2 47.<br />

5 Cf. MALHEIROS, Sylvia Helena Steiner. Princípio da reserva legal e o crime <strong>de</strong> tortura na legislação brasileira.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Ciências Criminais, n2 13, p. 163, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!