17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

728 Direito Constitucional • Moraes<br />

segundo pós-guerra, sensibilizada pela perversão do or<strong>de</strong>namento jurídico ocorrida<br />

no nazismo, a adotar, com algumas variantes importantes, o sistema kelsiano”.1<br />

O controle exercido pelos Tribunais Constitucionais, longe <strong>de</strong> configurar um <strong>de</strong>srespeito<br />

à vonta<strong>de</strong> popular emanada por órgãos eleitos, seja no Executivo seja no Legislativo,<br />

constitui um <strong>de</strong>licado sistema <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong> entre a Democracia e o Estado <strong>de</strong><br />

Direito, que para manter-se balanceado, <strong>de</strong>ve possuir claras e precisas regras sobre sua<br />

composição, competências e po<strong>de</strong>res.<br />

O mo<strong>de</strong>lo francês prevê um controle <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> preventivo a ser realizado<br />

pelo Conselho Constitucional, que, no transcurso do processo legislativo, po<strong>de</strong>rá, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

provocado pelo Governo, ou pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer das Casas legislativas, analisar<br />

a <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proposição ou <strong>de</strong> uma emenda, antes <strong>de</strong> sua promulgação,<br />

<strong>de</strong>vendo pronunciar-se no prazo <strong>de</strong> oito dias.12<br />

Ressalte-se, porém, a excepcionalida<strong>de</strong> prevista no art. 37.2 da Constituição francesa,<br />

que previu uma forma <strong>de</strong> controle repressivo <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong>. Trata-se da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o Conselho Constitucional francês analisar abstratamente a repartição<br />

<strong>constitucional</strong> <strong>de</strong> competências entre o Governo e o Parlamento. Como salienta Favoreu,<br />

“o sistema <strong>de</strong> repartição <strong>de</strong> competências entre a lei e o regulamento provocou, por fim,<br />

o surgimento na França <strong>de</strong> um controle <strong>de</strong> <strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong> das leis”.3<br />

Em 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, a Constituição francesa foi alterada, tendo o Presi<strong>de</strong>nte da<br />

República promulgado lei <strong>de</strong> revisão <strong>constitucional</strong> “<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnisation <strong>de</strong>s institutions <strong>de</strong>la<br />

Vème République” (da mo<strong>de</strong>rnização das instituições da Quinta República) nfi 2008-724,<br />

resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhado trabalho <strong>de</strong> Comitê <strong>de</strong> Especialistas apresentado pelo Governo<br />

ao Parlamento em 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2008 e aprovado pela Assemblée Nationale (Assembléia<br />

Nacional) e Sénat (Senado).<br />

A lei <strong>de</strong> revisão <strong>constitucional</strong> consagrou na França o tradicional controle abstrato <strong>de</strong><br />

<strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong>, passando a permitir a <strong>de</strong>nominada exceção <strong>de</strong> in<strong>constitucional</strong>ida<strong>de</strong><br />

(.exception d’inconstitutionnalité) e conce<strong>de</strong>ndo ao Conselho Constitucional o po<strong>de</strong>r para<br />

o exercício do controle repressivo, nos mol<strong>de</strong>s teorizados por Hans Kelsen.4<br />

A Constituição Francesa, com as subsequentes modificações da lei <strong>de</strong> revisão <strong>constitucional</strong>,<br />

passou a <strong>de</strong>terminar que qualquer dispositivo legal <strong>de</strong>clarado in<strong>constitucional</strong><br />

repressivamente pelo Conselho Constitucional, por provocação do Conselho <strong>de</strong> Estado<br />

(Conseil d’Etat) ou da Corte <strong>de</strong> Cassação (Cour <strong>de</strong> Cassation), será expurgado do or<strong>de</strong>namento<br />

jurídico com efeitos erga omnes, não retroativos (ex nunc), repristinatórios e<br />

vinculantes para todas as autorida<strong>de</strong>s administrativas e jurisdicionais.<br />

1 GARCÍA DE EN TER RÍA , E d u ardo. La C onstitución como norm a y el tribunal <strong>constitucional</strong>. 3. ed . M adri:<br />

C ivitas, 1 9 9 4 . p. 5 9 .<br />

2 EISENMANN, C harles. L a justice constitutionnelle etla haute cour constitutionnelle d’A utriche. Paris: Econom ica-<br />

-Presses U n iversitaires d’A ix-M arseille, 1 9 8 6 . p. 1 3 7 .<br />

3 FAVOREU, Louis. Informe... O p . cit. p. 15.<br />

4 A m u d an ça d e m o<strong>de</strong>lo p reten d ia, in clusive, a lte ra r o n o m e do “C on selh o C o n stitu cio n al” p a ra “C o rte C onstitu<br />

c io n a l”, p or e m en d a do S e n a d o r e e x -P re sid en te do C o n selh o C o n stitu cio n a l B a d in te r (em e n d a n° 3 2 1 ,<br />

in trod u zin d o artig o 2 4 - 3 ). Porém , ap esa r d e ap rovada p elo S en a d o , foi re je ita d a p e la A ssem bléia N acional.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!