17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

822 Direito Constitucional • Moraes<br />

do Direito. Observe-se, porém, que mesmo após a adoção do novo posicionamento, são<br />

excepcionais e raríssimos os casos em que a Câmara dos Lor<strong>de</strong>s alterou os próprios prece<strong>de</strong>ntes,<br />

em prol da segurança jurídica.1<br />

A EC n12 45/04 possibilitou ao Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, assim como à Corte Suprema<br />

Americana e à Câmara dos Lor<strong>de</strong>s inglesa, a não vinculação ad eternum a seus próprios<br />

prece<strong>de</strong>ntes, po<strong>de</strong>ndo, a partir <strong>de</strong> novas provocações, reflexões e diversas <strong>de</strong>cisões futuras,<br />

alterar a interpretação dada em matéria <strong>constitucional</strong> e, consequentemente, proce<strong>de</strong>r a<br />

revisão ou cancelamento da súmula, o que impedirá qualquer forma <strong>de</strong> engessamento e<br />

paralisia na evolução do Direito, sem, contudo, <strong>de</strong>srespeitar os princípios da igualda<strong>de</strong>,<br />

segurança jurídica e celerida<strong>de</strong> processual.2<br />

Dessa forma, nos termos do § 22, do art. 103-A, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, regulamentado<br />

pela Lei n211.417/06, a revisão ou cancelamento <strong>de</strong> súmula po<strong>de</strong>rá ser, igualmente,<br />

<strong>de</strong> ofício ou provocada por um dos colegitimados, tanto pelo procedimento direto, quanto<br />

pelo procedimento inci<strong>de</strong>ntal.<br />

Ressalte-se, ainda, que, reforçando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mutação e evolução interpretativa<br />

do <strong>direito</strong> sumular, a Lei nfi 11.417/06 estabeleceu que, revogada ou modificada a lei em<br />

que se fundou a edição <strong>de</strong> enunciado <strong>de</strong> súmula vinculante, o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral,<br />

<strong>de</strong> ofício ou por provocação, proce<strong>de</strong>rá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.<br />

Alémdisso, é importante ressaltar que competirá a cada um dos magistrados, ao analisar<br />

o caso concreto, a conclusão pela aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada súmula ou não, ou mesmo<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apontarnovos pontos característicos que não se encontram analisados<br />

na Súmula, ou ainda, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alteração da súmula em virtu<strong>de</strong> da evolução do<br />

Direito, <strong>de</strong> maneira semelhante ao que ocorre no <strong>direito</strong> norte-americano, quando o juiz<br />

utiliza-se do mecanismo processual do distinguishing (distinção entre o caso concreto e<br />

o prece<strong>de</strong>nte judicial) para <strong>de</strong>monstrar que não é o caso <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado<br />

prece<strong>de</strong>nte na hipótese em julgamento.<br />

A EC nB45/04, corretamente, não previu, por exagerado e inútil, nenhum mecanismo<br />

que possa responsabilizar disciplinarmente o juiz pela não adoção das súmulas vinculantes.3<br />

A proteção da valida<strong>de</strong> das súmulas vinculantes editadas pelo Supremo Tribunal<br />

1 Cf. C R O SS, R u p ert; H ARRIS, J . W. P r e c e d e n t in E n g lis h la w . O xford: C larendon Press, 1 9 9 1 . p. 1 0 2 -1 0 8 .<br />

2 C onferir, n esse m esm o sentido: FR IED E, R eis. D as refo rm as co n stitu cio n ais. R e v is t a d o s T r ib u n a is , a n o 6 , n “<br />

2 5 , p. 7 4 -7 5 , out./<strong>de</strong>z. 1 9 9 8 .<br />

3 Law rence B a u m a p o n ta q u e , ap esa r <strong>de</strong> existir e sse m ecan ism o nos Estados U nidos, ja m a is a C orte Suprem a<br />

utilizou -se da possibilid a<strong>de</strong> <strong>de</strong> d ecla ra r um ju iz culpado p or d esacato , em b ora quase fizesse isso num caso em<br />

1 9 6 9 (In re H ern d o n j. A lém disso, re le m b ra que, ap esar <strong>de</strong> na gran<strong>de</strong> m a io ria dos casos as d ecisões da C orte<br />

Suprem a serem a ca ta d a s pelos tribu n ais in ferio res, e x iste m e xem p lo s em que esses trib u n a is <strong>de</strong>sresp eitaram<br />

essas d ecisões, retard an d o a execu ção <strong>de</strong> seus ju lg a d o s, ou ain d a, in terp retan d o -as d iferen tem en te do que afirm<br />

ara a C orte Suprem a. O a u to r cita com o exem plo o caso Hawkins v. U niversida<strong>de</strong> da F ló rid a, em que, ap esar<br />

<strong>de</strong> a C orte Suprem a te r d eterm in a d o , p rim eiram en te (1 9 5 4 ), que a C orte Suprem a da Flórid a reexam in a sse a<br />

negativa <strong>de</strong> acesso do negro H aw kins à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da U niversida<strong>de</strong> da Flórida, som en te frequ en tad a<br />

p or bran co s e, p o sterio rm en te (1 9 5 6 ), que H aw kins tin h a d ireito a p ro n ta adm issão, p o r um a série <strong>de</strong> m a n o ­<br />

bras a C orte Estadual n egou-se a e x e cu ta r a d ecisão , n ão ten d o a C orte Su p rem a ap licado qualquer san ção aos<br />

ju iz e s da m esm a (BAUM , L aw ren ce. A s u p r e m a c o n e a m e r ic a n a . Rio <strong>de</strong> Ja n e iro : Forense U n iversitária, 1 9 8 7 . p.<br />

3 0 0 - 3 0 1 ). Pod eriam os, ain da, cita r outros exem p los h istó rico s, co m o no c a so dos índios d a G eórgia, em q u e o<br />

Estado da G eórgia, apoiado pelo P resid en te Ja ck so n , ap ropriou -se das terras in dígen as e d eso bed eceu ã or<strong>de</strong>m<br />

da C orte <strong>de</strong> M arshall para restitu í-las.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!