17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

688 Direito Constitucional ■ Moraes<br />

“É <strong>de</strong> se sustentar, portanto, que a lei complementar é um tertium genus interposto,<br />

na hierarquia dos atos normativos, entre a lei ordinária (e os atos que têm a mesma<br />

força que esta - a lei <strong>de</strong>legada e o <strong>de</strong>creto-lei1) e a Constituição (e suas emendas).<br />

Não é só, porém, o argumento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que apóia essa tese; a própria lógica<br />

o faz. A lei complementar só po<strong>de</strong> ser aprovada por maioria qualificada, a maioria<br />

absoluta, para que não seja, nunca, o fruto da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma minoria ocasionalmente<br />

em condições <strong>de</strong> fazer prevalecer sua voz. Essa maioria é assim um sinal<br />

certo da maior pon<strong>de</strong>ração que o constituinte quis ver associada ao seu estabelecimento.<br />

Paralelamente, <strong>de</strong>ve-se convir, não quis o constituinte <strong>de</strong>ixar ao sabor <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>cisão ocasional a <strong>de</strong>sconstituição daquilo para cujo estabelecimento exigiu<br />

pon<strong>de</strong>ração especial. Aliás, é princípio geral <strong>de</strong> Direito que, ordinariamente, um<br />

ato só possa ser <strong>de</strong>sfeito por outro que tenha obe<strong>de</strong>cido à mesma forma”,<br />

assim continua,<br />

“...a lei ordinária, o <strong>de</strong>creto-lei12 e a lei <strong>de</strong>legada estão sujeitos à lei complementar.<br />

Em consequência disso não prevalecem contra elas, sendo inválidas as normas que<br />

a contradisserem”.3<br />

A tese pela hierarquia da lei complementar sobre a lei ordinária (e os atos que têm<br />

a mesma força que esta - a lei <strong>de</strong>legada e a medida provisória) é fortemente criticada,<br />

alegando-se que ambas retiram seu fundamento <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> da própria constituição, bem<br />

como possuem diferentes campos materiais <strong>de</strong> competência.<br />

Em relação ao primeiro argumento, <strong>de</strong>vemos lembrar que todas as espécies normativas<br />

primárias retiram seu fundamento <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> da própria Constituição Fe<strong>de</strong>ral, inclusive<br />

as próprias Emendas Constitucionais, nem por isso se diga que estariam no mesmo patamar<br />

hierárquico que as <strong>de</strong>mais.<br />

O segundo argumento,4 tecnicamente corretíssimo, correspon<strong>de</strong> a uma das diferenças<br />

entre lei complementar e lei ordinária. Enquanto a primeira tem reservadas as matérias<br />

pelas quais po<strong>de</strong>rá ser editada, a segunda possui um campo residual <strong>de</strong> competência.<br />

Ocorre que o Direito como ciência não é estanque, e <strong>de</strong>terminada matéria reservada à<br />

lei complementar po<strong>de</strong>rá possuir tantas subdivisões, que em uma <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>rá acabar<br />

confundindo-se com outra matéria residual a ser disciplinada por lei ordinária.<br />

Exemplifiquemos: O art. 79, parágrafo único, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>termina que<br />

lei complementar po<strong>de</strong>rá disciplinar funções ao Vice-Presi<strong>de</strong>nte da República. Digamos<br />

que, editada a referida lei complementar, uma das funções, com base no art 90,1, da Carta,<br />

1 Em face da Constituição <strong>de</strong> 1988, que não previu a existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>creto-lei com o espécie norm ativa, a<br />

argumentação terá valida<strong>de</strong> para as medidas provisórias.<br />

2 H o je substituido pela m edida provisória.<br />

3 FERREIRA FILHO, M anoel Gonçalves. Do processo... Op. cit. p. 236-237.<br />

4 N o sentido <strong>de</strong>sse argum ento: STF - P len o - A I n° 457.926-6/MG - Rei. Min. Sepúlveda Pertence, Diário<br />

da Justiça, Seção 1,6 set. 2006, p. 38. N o mesmo sentido, <strong>de</strong>cidiu o STF, afirm ando “a inexistência <strong>de</strong> vínculo<br />

hierárquico-norm ativo entre a lei com plem entar e a le i ordinária” , pois “ espécies legislativas que possuem<br />

cam pos <strong>de</strong> atuação materialm ente distintos” (STF - 2a T. - RE 587.648 ED/RS - RIO GRANDE DO SUL - Rei.<br />

Min. Celso d eM ello, DJe, 16-12-2010).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!