17.11.2017 Views

alexandre-de-moraes-direito-constitucional-2014

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

280 Direito Constitucional • Moraes<br />

ou seja, po<strong>de</strong>m requerer à Justiça Eleitoral a cassação do mandato do parlamentar infiel<br />

e a imediata <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> posse do suplente.1<br />

O Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral confirmou esse entendimento, tendo o Ministro Celso<br />

<strong>de</strong> Mello <strong>de</strong>stacado que essa possibilida<strong>de</strong> surge <strong>de</strong> “emanação direta do próprio texto da<br />

Constituição, que a esse mesmo <strong>direito</strong> confere realida<strong>de</strong> e dá suporte legitímador, especialmente<br />

em face dos fundamentos e dos princípios estruturantes em que se apoia o Estado<br />

Democrático <strong>de</strong> Direito, como a soberania popular, a cidadania e o pluralismo político (CF,<br />

art. I a, I, II e V ). Não se trata, portanto, <strong>de</strong> impor, ao parlamentar infiel, a sanção da perda<br />

<strong>de</strong> mandato”, para concluir que “O ato <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, seja ao Partido Político, seja, com<br />

maior razão, ao próprio cidadão-eleitor, mais do que um <strong>de</strong>svio ético-político, representa um<br />

inadmissível ultraje ao princípio <strong>de</strong>mocrático e ao exercício legítimo do po<strong>de</strong>r, na medida<br />

em que migrações inesperadas, nem sempre motivadas por razões justas, não só surpreen<strong>de</strong>m<br />

o próprio corpo eleitoral e as agremiações partidárias <strong>de</strong> origem - <strong>de</strong>sfalcando-as da<br />

representativida<strong>de</strong> por elas conquistada nas urnas -, mas culminam por gerar um arbitrário<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong> forças no Parlamento, vindo, até, em clara frau<strong>de</strong> à vonta<strong>de</strong> popular, e em<br />

frontal transgressão ao sistema eleitoral proporcional, a asfixiar, em face <strong>de</strong> súbita redução<br />

numérica, o exercício pleno da oposição política”.12<br />

Posteriormente, o Tribunal Superior Eleitoral editou a Resolução nQ22.610/DF, <strong>de</strong><br />

25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, relatada pelo Ministro Cezar Peluso, disciplinando o processo<br />

<strong>de</strong> perda <strong>de</strong> cargo eletivo, bem como <strong>de</strong> justificação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfiliação partidária,3 sendo<br />

o Tribunal Superior Eleitoral competente para processar e julgar os pedidos relativos a<br />

mandatos fe<strong>de</strong>rais e os Tribunais Regionais Eleitorais competentes para os <strong>de</strong>mais casos.<br />

A resolução estabeleceu que o partido político interessado possa pedir, perante a<br />

Justiça Eleitoral, a <strong>de</strong>cretação da perda <strong>de</strong> cargo eletivo em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfiliação<br />

partidária sem justa causa.<br />

O Tribunal Superior Eleitoral, na citada resolução, optou por não <strong>de</strong>finir o conceito<br />

<strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> justa causa, preferindo, contrario sensu, estabelecer como justa causa as<br />

seguintes hipóteses: incorporação ou fusão do partido; criação <strong>de</strong> novo partido; mudança<br />

substancial ou <strong>de</strong>svio reiterado do programa partidário; grave discriminação pessoal.4<br />

A Resolução na 22.610/DF estabeleceu, ainda, como primeiro legitimado para o<br />

pedido perante a Justiça Eleitoral o próprio partido político pelo qual foi eleito o político<br />

que se <strong>de</strong>sfiliou, permitindo, porém, na hipótese <strong>de</strong> sua inércia no período <strong>de</strong> 30 dias, que<br />

o pedido seja feito por quem tenha interesse jurídico ou pelo Ministério Público eleitoral.<br />

Os partidos políticos, após adquirirem personalida<strong>de</strong> jurídica, na forma da lei civil,<br />

registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral e terão <strong>direito</strong> a recursos do fundo<br />

partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.<br />

1 Conferir, nesse sentido, inclusive garantindo ao suplente do Partido e não da Coligação o mandato na hipótese<br />

<strong>de</strong> renúncia: STF - Pleno - MS 29.999 MC/DF, Rei. Min. Gilmar Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>cisão: 9-12-2010.<br />

2 Voto (STF - Pleno - MS 26.603-1/DF - Rei. M in. Celso <strong>de</strong> M ello, <strong>de</strong>cisão: 4-10-2007).<br />

3 Nos termos <strong>de</strong> seu art. 13: “Esta Resolução entra em vigor na data <strong>de</strong> sua publicação, aplicando-se apenas às<br />

<strong>de</strong>sfiliações consumadas após 27 (vin te e sete) <strong>de</strong> março <strong>de</strong>ste ano, quanto a mandatários eleitos pelo sistema<br />

proporcional, e, após 16 (<strong>de</strong>zesseis) <strong>de</strong> outubro corrente, quanto a eleitos pelo sistema m ajoritário.’’<br />

4 O § 3°, do art. l Qda Resolução nQ22.610/DF, perm itequ e“ 0 mandatário que se <strong>de</strong>sfiliou ou pretenda <strong>de</strong>sfiliar-<br />

-se po<strong>de</strong> pedir a <strong>de</strong>claração da existência <strong>de</strong> justa causa, fazendo citar o partido na forma <strong>de</strong>sta Resolução.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!