17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1000 Padre Mateus Ribeiro<br />

de ingrata porque de suas finezas não se obriga e de tirana porque a seus<br />

extremos não se demove? Eu a culpara também, se a não desculpara o temor<br />

e se a não absolvera o receio. Dous temores ou receios considero em Fenisa:<br />

o primeiro em sujeitar-se a amar poden<strong>do</strong> depois ser aborreci<strong>da</strong>, e o segun<strong>do</strong> o<br />

ver-se venturosa, consideran<strong>do</strong> nesta própria ventura o ficarem seus pais e<br />

irmãos desgraça<strong>do</strong>s. No primeiro temor obrou como discreta e no segun<strong>do</strong><br />

temor obra como filha. É o amor um voluntário cativeiro, disfarça<strong>do</strong> argel <strong>da</strong>s<br />

liber<strong>da</strong>des, como lhe chamou Propércio 1053 ; mal de difícil cura, como o intitula<br />

Ovídio 1054 ; frenético acidente <strong>da</strong> razão lhe dá por nome Apuleio 1055 ; e<br />

finalmente violenta paixão <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s o descreve Erasmo 1056 , que como<br />

primeiro móvel com violência os arrebata. É, se bem se considera, prisão <strong>do</strong><br />

coração, martírio <strong>da</strong> alma, desconheci<strong>do</strong> saltea<strong>do</strong>r, ingrato para servir-se,<br />

desumano para seguir-se e dificultoso para deixar-se.<br />

Sen<strong>do</strong> pois estes os atributos <strong>do</strong> amor, bem mostrou Fenisa o raro de<br />

seu juízo em não pretender segui-lo, porque consideran<strong>do</strong>-se incapaz de tão<br />

altivo casamento e emprego tão sublime, poderia vossa excelência, avalian<strong>do</strong>-<br />

se por mal emprega<strong>do</strong> no consórcio de uma vassala, vir a mostrar-se<br />

arrependi<strong>do</strong>, chegan<strong>do</strong> de pesaroso a aborrecer o que agora com extremos<br />

mostra amar; porque, como diz Plutarco 1057 , tão cego é o aborrecimento como<br />

o amor. Sempre o bem depois de possuí<strong>do</strong> se representa menos e o não<br />

logra<strong>do</strong> se considera mais. Podia vossa excelência, depois de casa<strong>do</strong> com<br />

Fenisa, considerar avantaja<strong>do</strong>s casamentos que em outros senhorios se lhe<br />

puderam oferecer com filhas de senhores soberanos, diferentes esta<strong>do</strong>s e<br />

grandiosos <strong>do</strong>tes; e descen<strong>do</strong> de pesaroso a melancólico, vir a mostrar-se<br />

aborreci<strong>do</strong> <strong>da</strong> eleição que agora fazia e desprezar de senti<strong>do</strong> o mesmo de que<br />

agora faz a maior estimação, passan<strong>do</strong> de um a outro extremo, o que para<br />

Fenisa ficaria sen<strong>do</strong> a maior pena, indivisível mágoa e incessável <strong>do</strong>r; pois,<br />

Ovid., in Ep.<br />

Apul., Lib. 6.<br />

Erasm., in Ep.<br />

Plut., De utilit. capien ab inimic.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!