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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 117<br />

prudência que minha anciani<strong>da</strong>de representa. Não duvi<strong>do</strong>u Aristóteles 149 que<br />

pudessem ser sábios, porque como a maior parte <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria pen<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

experiência e esta <strong>da</strong> madureza <strong>do</strong>s anos, parece que implicava <strong>da</strong>r-se ou<br />

sabe<strong>do</strong>ria sem experiência ou experiência sem o discurso de larga i<strong>da</strong>de:<br />

porém estão no tempo presente as letras tão apura<strong>da</strong>s e os engenhos tão<br />

vivos, e vejo os anais e crónicas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tão copiosas <strong>do</strong>s sucessos e<br />

experiências dele, que sem dúvi<strong>da</strong> podem os mancebos alcançar estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os<br />

avisos <strong>da</strong> experiência que conseguiam os anciãos viven<strong>do</strong>. E porque em<br />

vossas palavras descobri indícios juntamente de vosso aviso e sentimento, que<br />

tristezas e alegria com dificul<strong>da</strong>de se dissimulam, vos peço, pois ain<strong>da</strong> agora o<br />

sol nace (se causa não há que a maior pressa vos obrigue), descansemos um<br />

pouco e me digais a causa de vossa peregrinação, a ocasião de vossas<br />

tristezas, se elas o permitem, que achareis em mim senão remédio porventura<br />

alívio, que os males comunica<strong>do</strong>s muitas vezes se diminuem e as ânsias<br />

reconcentra<strong>da</strong>s crescem, prometen<strong>do</strong> compensar-vos a narração com a de<br />

minha vi<strong>da</strong>, que porventura vos servirá em parte de roteiro com que caminhais<br />

mais seguro pelos enganos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que eu alcancei com a experiência que,<br />

como ensina Demóstenes 150 , é mestra de acautelar descui<strong>da</strong><strong>do</strong>s que sem ela<br />

muitas vezes sucederam.<br />

- São tantos os interesses (disse o Peregrino) que me resultam de<br />

vossa discreta companhia que em parte me pesa por me haverdes ganha<strong>do</strong><br />

por mão com pedir-me vos conte o que eu para alívio de minhas penas<br />

houvera de rogar-vos me ouvísseis. Descansemos aonde quiserdes e vos <strong>da</strong>rei<br />

notícia de minha vi<strong>da</strong> e infortúnios, para que de vós receba neles consolação,<br />

pois não espero achar remédio e ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> alívio duvi<strong>do</strong>.<br />

Deu-lhe o Ermitão as graças de sua cortesia e desvian<strong>do</strong>-se ambos <strong>do</strong><br />

caminho e subi<strong>da</strong> <strong>do</strong> monte por algum espaço, assenta<strong>do</strong>s na verde relva,<br />

junto a uma selva de algumas que o monte em algumas partes ocupam, o<br />

Peregrino começou sua história dizen<strong>do</strong>:<br />

- Suposto que meu nacimento foi em Paris, a principal ci<strong>da</strong>de, metrópoli<br />

e real corte <strong>do</strong> reino de França, aquele mun<strong>do</strong> abrevia<strong>do</strong> em quem parece se<br />

Arist., Ethic. 6.<br />

Demosth., in Arg. lib.

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