17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 329<br />

aos atenienses eram tão cruéis que diziam delas se escreveram com sangue e<br />

por isso se esqueceram; veio Sólon e abran<strong>do</strong>u-as e por isso se observaram. A<br />

cruel<strong>da</strong>de disse Euripides que foi destruição <strong>do</strong>s reinos e ruína <strong>do</strong>s povos.<br />

Indigna de muitos generosos chamou o Séneca à cruel<strong>da</strong>de. Lúcio Sila e Caio<br />

Mário por cruéis foram de to<strong>do</strong>s aborreci<strong>do</strong>s. Pisístrato, sen<strong>do</strong> tirano de<br />

Atenas, pela muita clemência se fez ama<strong>do</strong>. Se para com Juliano vos<br />

mostrardes implacável, não deixareis de ficar de muitos aborreci<strong>do</strong>; se vos<br />

mostrardes pie<strong>do</strong>so, de to<strong>do</strong>s sereis louva<strong>do</strong>. Porque a demasia<strong>da</strong> crueza<br />

nunca se isentou de censura e a pie<strong>da</strong>de sempre conseguiu o louvor.<br />

O meio para abran<strong>da</strong>r a inteireza <strong>do</strong> vice-rei é que vós, senhor, per<strong>do</strong>eis<br />

a Juliano este amoroso delito e que a senhora Lucin<strong>da</strong> lhe dê a mão de<br />

esposa, com que ficará sua fama nas línguas de to<strong>do</strong>s sem escrúpulo <strong>da</strong><br />

menor sombra de indecência, vossa clemência acredita<strong>da</strong>, Juliano venturoso e<br />

to<strong>da</strong> Nápoles satisfeita.<br />

Aqui me levantei eu impaciente e disse:<br />

- Que a autori<strong>da</strong>de que em vossa paterni<strong>da</strong>de to<strong>do</strong>s veneramos<br />

intercedesse por Juliano para o perdão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, empenho digno era <strong>da</strong><br />

profissão de seu esta<strong>do</strong> e letras; mas querer que este atrevi<strong>do</strong> não só fique<br />

com vi<strong>da</strong>, mas juntamente com minha irmã casa<strong>do</strong>, parece excesso <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de<br />

não só ficar sem castigo, mas ain<strong>da</strong> com prémio de seu desaforo; e que<br />

alcance por descomedi<strong>do</strong>, o que não pôde conseguir por modesto. O crédito de<br />

Lucin<strong>da</strong> um convento abona, que quem lhe não soube guar<strong>da</strong>r respeitos<br />

quan<strong>do</strong> amante, menos lhos guar<strong>da</strong>rá quan<strong>do</strong> casa<strong>da</strong>. Além <strong>do</strong> que, quan<strong>do</strong><br />

Juliano fique com a vi<strong>da</strong>, nunca poderá livrar de um desterro dilata<strong>do</strong> e não<br />

convém que minha irmã, sen<strong>do</strong> a ofendi<strong>da</strong>, se desterre com ele como culpa<strong>da</strong><br />

ou fiquem como em divórcio de uma vagarosa ausência. Diferença, como diz<br />

Cícero 328 , há-de haver entre prémios e castigos; porque nem há inocência se<br />

há-de <strong>da</strong>r castigo, nem é justo que à culpa se dê prémio.<br />

- Falais, senhor (respondeu o confessor <strong>do</strong> grão-duque), com mais<br />

paixão que experiência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Porque se me concedeis o fim, que é a vi<strong>da</strong><br />

de Juliano, obriga<strong>do</strong> ficais a conceder-me os meios; pois, conforme ao Direito,<br />

são os meios tão suborna<strong>do</strong>s aos fins que participam <strong>da</strong> própria natureza; e<br />

Cicer., 1. De natura deorum.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!