17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

394 Padre Mateus Ribeiro<br />

pelo lugar, para lograr o fresco <strong>da</strong> noite com a viração <strong>do</strong> mar; que não era<br />

muito abreviar as horas ao sono, quem de <strong>do</strong>rmir tão poucas horas gozava.<br />

Saímos de casa levan<strong>do</strong> só as espa<strong>da</strong>s e pistolas; e como a pedra de<br />

cevar em qualquer sítio que esteja sempre por natural simpatia busca o norte,<br />

assim eu rodean<strong>do</strong> várias ruas fui deman<strong>da</strong>r o sítio aonde vivia Amatilde, novo<br />

norte de meus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s a que me guiava o amor e a fortuna. Seriam as onze<br />

horas <strong>da</strong> noite, que era entre clara e escura, quan<strong>do</strong> defronte <strong>da</strong>s suas casas<br />

(quem cui<strong>da</strong>ra achar o perigo aonde buscava o recreio!), de repente<br />

dispararam quatro homens que rebuça<strong>do</strong>s passavam uma espingar<strong>da</strong> com<br />

duas balas, que, levan<strong>do</strong> a mira erra<strong>da</strong> <strong>do</strong> intento, acertaram em mim<br />

buscan<strong>do</strong> a Valério, abrin<strong>do</strong>-me uma perigosa e penetrante feri<strong>da</strong> pelo peito<br />

direito, de que assusta<strong>do</strong>, queren<strong>do</strong> disparar a pistola que trazia, caí<br />

desacor<strong>da</strong><strong>do</strong> em terra junto à porta de Amatilde. Disparou Valério a pistola,<br />

mas sem fruto, porque conhecen<strong>do</strong> os rebuça<strong>do</strong>s haverem erra<strong>do</strong> o tiro que a<br />

ele dirigiam, pesarosos <strong>do</strong> desacerto e desejosos <strong>da</strong> vingança, arrancan<strong>do</strong> as<br />

espa<strong>da</strong>s o acometeram tão arroja<strong>do</strong>s que lhe foi necessário buscar na fugi<strong>da</strong> o<br />

remédio que é o refúgio, que Euripides 393 escreve permitir a noite contra os<br />

perigos. Não foram menos velozes os rebuça<strong>do</strong>s em seguir que Valério em<br />

correr que, como eram tantos, toman<strong>do</strong>-lhe os atalhos como práticos na terra, o<br />

obrigaram por força a defender-se e, como a defensa era força<strong>da</strong>, converteu-se<br />

em desesperação, e com esta, como escreve Vegécio 394 , a ousadia para<br />

passar de atrevi<strong>do</strong> a temerário.<br />

Na liga <strong>da</strong> poderosa arma<strong>da</strong> que fizeram as repúblicas e ci<strong>da</strong>des de<br />

Grécia contra as arma<strong>da</strong>s e exércitos poderosos de Xerxes, sen<strong>do</strong> general <strong>do</strong>s<br />

gregos o prudente Temístocles, ven<strong>do</strong> que venci<strong>do</strong> Xerxes na famosa batalha<br />

naval de Salamina queriam os gregos vitoriosos cortar-lhe a ponte que tinha<br />

lança<strong>do</strong> ao Helesponto, para impedir-lhe a retira<strong>da</strong> com que fugia, ele lhe<br />

man<strong>do</strong>u secreto aviso que se apressasse em passar antes que os gregos lhe<br />

cortassem a ponte, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> por razão prudentemente que bastava ao inimigo<br />

fugir, sem que chegassem a desesperar, porque a vitória que aos gregos tinha<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> a valentia, podia <strong>da</strong>r a Xerxes a desesperação. Isto digo porque ven<strong>do</strong>-se<br />

Eurip., in Rhet.<br />

Vegecius, Lib. 3.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!