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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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286 Padre Mateus Ribeiro<br />

militares conflitos; desassombrai vossa pátria de temores e a vossos pais de<br />

receios; retirai-vos a Roma, aonde os tendes, não queirais fazer desperdícios<br />

<strong>da</strong> ventura que vos tem favoreci<strong>do</strong>, que intentar competir com quem mais pode<br />

é mais arrojo <strong>da</strong> paixão que acerto <strong>da</strong> prudência. O empera<strong>do</strong>r pode muito e<br />

seus ministros, nas mesmas covas <strong>do</strong>s montes não estais seguro ain<strong>da</strong> oculto,<br />

quanto mais manifesto; não sejais como as estrelas que são inflexíveis e<br />

extremosas, porque as fixas jamais se movem e as errantes nunca param;<br />

sede como o sol que soube parar-se a Josué e soube retirar-se a Ezequias.<br />

Um bom retiro e a tempo é indício <strong>da</strong> glória militar, que não consiste sempre<br />

em acometer, mas juntamente, quan<strong>do</strong> importa, em saber-se retirar. Isto é o<br />

que vos pode advertir minha ignorância enquanto a restaurardes vosso crédito<br />

e assegurardes vossa vi<strong>da</strong>, que os riscos de vossa alma vós melhor os<br />

conheceis <strong>do</strong> que os posso recitar nem com palavras advertir.<br />

Com atenção grande ouviu Frederico meu conselho e conheceu que lhe<br />

falava desengana<strong>do</strong>, desejoso de seu bem e sossego, e me respondeu assim:<br />

- Tem-me tanto persuadi<strong>do</strong>, discreto passageiro, vossas palavras e o<br />

que delas infiro, desejardes meu descanso e porto seguro nas flutuantes<br />

tormentas que me combatem, que me não deterei em retirar-me desta<br />

inquietação em que vivo mais que enquanto descobrir o mo<strong>do</strong> com que me<br />

possa despedir destes sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que me acompanham, pois não parece razão,<br />

assistin<strong>do</strong>-me eles em tantas ocasiões arrisca<strong>da</strong>s, eu os deixe no tempo mais<br />

perigoso à morte ofereci<strong>do</strong>s. É o agradecimento dívi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s benefícios que, diz<br />

S. Agostinho 305 , deve igualá-los quan<strong>do</strong> não possa excedê-los. Lembra-me que<br />

fugin<strong>do</strong> o romano Largoso <strong>da</strong> morte a que estava condena<strong>do</strong> e proscrito por<br />

Octaviano e seus colegas, encontran<strong>do</strong>-o uns sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que iam no alcance de<br />

outros bandi<strong>do</strong>s para ganharem o prémio que era prometi<strong>do</strong> a quem o<br />

degolasse e, sen<strong>do</strong> deles acha<strong>do</strong> sem o buscarem, movi<strong>do</strong>s de pie<strong>da</strong>de o<br />

deixaram, e a pouco espaço que se tinha aparta<strong>do</strong> deles lhe saíram outros a<br />

prendê-lo, e ven<strong>do</strong> ele não lhe ser já possível evitar a morte, se voltou fugin<strong>do</strong><br />

aos primeiros, que de compadeci<strong>do</strong>s o tinham deixa<strong>do</strong>, para que eles preso o<br />

levassem e ganhassem o prémio prometi<strong>do</strong>, pois com outra cousa pagar-lhes<br />

não podia o desejo pie<strong>do</strong>so que tiveram de livrá-lo, como refere Apiano<br />

S. August., Soliloq. cap. 8.

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