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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 187<br />

que encerra Espanha: se antes de a ver me avisáreis, evitara o perigo, mas<br />

hoje prisioneiro como não procurarei o remédio? Se vos confiais em mais<br />

venturoso, deixai-me penar infelice. Que importa que meu coração se abrase,<br />

se <strong>da</strong> Tarpeia vedes seguro seu incêndio? Que tendes que temer favoreci<strong>do</strong> de<br />

quem, como eu, pena despreza<strong>do</strong>? E agradecei ao amor, que fazeis<br />

experiência <strong>da</strong> fé, que Lisar<strong>da</strong> vos guar<strong>da</strong> com um desditoso, que bem pudera<br />

suceder sair-vos mais custoso se fora o competi<strong>do</strong>r mais bem-afortuna<strong>do</strong>.<br />

Com isto me despedi dele, que ficou por extremos apaixona<strong>do</strong> de ver<br />

minha resolução tão delibera<strong>da</strong>, tratan<strong>do</strong>-me <strong>da</strong>í em diante com desabrimento<br />

e aspecto colérico e vingativo, que em mim igual correspondência achava,<br />

como em peito invejoso de sua felici<strong>da</strong>de, opositor manifesto de sua ventura.<br />

A principal causa que dão os historia<strong>do</strong>res à contínua discórdia e<br />

repugnância que houve entre os <strong>do</strong>us famosos atenienses Temístocles e<br />

Aristides foi haverem si<strong>do</strong> ambos juntamente opositores na pertensão de amor<br />

de uma fermosa <strong>do</strong>nzela <strong>da</strong> ilha de Seio, por quem igualmente se desvelaram;<br />

e assim não é muito que haven<strong>do</strong> desse dia em diante tão manifesta oposição<br />

entre mim e Frederico na pertensão de Lisar<strong>da</strong>, conseguintemente houvesse<br />

tanta desunião nas vontades, que depois ocasionou os infortúnios que ouvireis.<br />

Perseverei na empresa, porém sem esperança; arrisquei-me aos<br />

maiores perigos, porém sem proveito; apurei-me nas finezas mais amantes,<br />

mas sem galardão: pensão <strong>do</strong>s pouco mimosos <strong>da</strong> ventura que com obrarem<br />

tanto, na<strong>da</strong> se lhe agradece; e ven<strong>do</strong> que nem finezas nem desvelos eram<br />

bastantes a conseguir melhora<strong>da</strong> sorte em ser favoreci<strong>do</strong>, como se alguma<br />

antipatia ou contrarie<strong>da</strong>de natural entre mim e Lisar<strong>da</strong> se desse, determinei de<br />

experimentar se era bastante a astúcia para achar nela melhor patrocínio.<br />

Era D. Sancho meu particular amigo, haven<strong>do</strong>-nos cria<strong>do</strong> ambos em<br />

Salamanca e cursa<strong>do</strong> seus estu<strong>do</strong>s (como já ouvistes), e como nele tinha tanta<br />

confiança, leva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s desejos grandes de ver a Frederico deste trono, em que<br />

tão seguro seu amor estava, despoja<strong>do</strong>, pedi a D. Sancho quisesse ser fingi<strong>do</strong><br />

amante de Lisar<strong>da</strong>, para ver se a<strong>caso</strong> achan<strong>do</strong> nela, por forasteiro, mais<br />

venturoso abrigo, podia desapossar de seu coração o amor que para com<br />

Frederico mostrava viver tão firme.<br />

- Porventura (lhe disse eu) o amor não é batalha, a afeição não é<br />

perpétua guerra? E na milícia os enganos se chamam astúcias, e não somente

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