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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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484 Padre Mateus Ribeiro<br />

Diógenes, que avaliava por melhor o ser desgraça<strong>do</strong> seguin<strong>do</strong> os ditames <strong>da</strong><br />

razão, <strong>do</strong> que sair venturoso guian<strong>do</strong>-se pelos arrojos <strong>da</strong> ira. Digo isto por<br />

prelúdio <strong>do</strong> que intento dizer-vos, que porventura, se com atenção me ouvirdes,<br />

vos não precipitareis com tanto arrojo nas vinganças, que além <strong>do</strong>s riscos de<br />

vossa alma, arrisqueis vossa vi<strong>da</strong>, vossa fama e vosso esta<strong>do</strong> a uma<br />

irreparável ruína.<br />

- Bem vejo eu (replicou o conde) que vai grande distância em sofrer a<br />

pena a aconselhar o alívio dela, como vai <strong>do</strong> padecer ao discursar. Sempre em<br />

nossas causas próprias formamos um juízo e nas alheias outro. Ven<strong>do</strong>-se os<br />

focenses, povos <strong>da</strong> Grécia, oprimi<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s hostili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> guerra que lhes<br />

faziam os tebanos, e não ten<strong>do</strong> dinheiro com que pagar e ajuntar exército que<br />

os defendesse, foram despejar o templo de Apolo Deifico de to<strong>do</strong> o ouro e<br />

prata que nele acharam, com que ajuntaram exército para se defenderem; o<br />

que ouvin<strong>do</strong> Filipe, rei de Macedónia, como a sacrílegos os veio castigar,<br />

fazen<strong>do</strong>-lhes cruel guerra, e os venceu e destruiu como quem trazia alça<strong>da</strong> e<br />

comissão de Apolo para vingá-lo; não encontrou templo algum <strong>do</strong>s deuses que<br />

não saqueasse e despojasse de quanto nele havia, sen<strong>do</strong> em um mesmo<br />

tempo juiz que castigava e ladrão que despojava quanto nos templos via.<br />

Semelhante exemplo se viu em Mestefel, que quan<strong>do</strong> por morte <strong>do</strong><br />

empera<strong>do</strong>r Teodósio se rebelou Gil<strong>do</strong> com a província de África que<br />

governava, o estranhou e abominou tanto Mestefel, irmão <strong>do</strong> rebela<strong>do</strong>, que<br />

fugin<strong>do</strong> para Honório, que então imperava, criminou tanto diante dele a rebelião<br />

<strong>do</strong> irmão que o empera<strong>do</strong>r o man<strong>do</strong>u com poderoso exército a castigá-lo, e<br />

depois que em batalha o venceu e matou, ven<strong>do</strong>-se vence<strong>do</strong>r e com exército,<br />

se rebelou contra o império, como seu irmão Gil<strong>do</strong> havia feito, não estranhan<strong>do</strong><br />

em si próprio o que tanto estranhou e detestou no outro. Porque vai grande<br />

diferença de julgarmos nossas causas próprias a sentenciar alheias, assim<br />

como vai muita distância entre o aconselhar e o sofrer. Quem padece a <strong>do</strong>r,<br />

sente a pena, que como com rapto movimento leva trás si os discursos, como<br />

diz Euripides 467 , converten<strong>do</strong> a alma to<strong>da</strong>s as suas potências onde o peso <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>r a tiraniza; mas quem está livre de sentir tem os discursos livres para<br />

aconselhar: que como a <strong>do</strong>r o não oprime, também o juízo o não padece.<br />

Eurip., in Joan.

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