17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 203<br />

Tarpeia, servin<strong>do</strong>-lhe de precipício o próprio lugar que de antes tinha si<strong>do</strong><br />

teatro de suas glórias. Assim que sen<strong>do</strong> o povo tão mudável, o vulgo<br />

ordinariamente tão ignorante, pouco <strong>caso</strong> se deve fazer de seus juízos, que<br />

muitas vezes sem causa ama e sem razão aborrece. Nem sempre o que<br />

aprova é o mais escolhi<strong>do</strong>, nem o que reprova o mais rejeita<strong>do</strong>: o parecer <strong>do</strong>s<br />

sábios é o elogio mais eficaz e o juízo <strong>do</strong> vulgo o testemunho menos firme.<br />

Pressuposto pois que <strong>da</strong> erra<strong>da</strong> opinião com que o povo costuma avaliar<br />

aos <strong>da</strong> desleal<strong>da</strong>de de suas mulheres ofendi<strong>do</strong>s se deve fazer pouco <strong>caso</strong>,<br />

como de política erra<strong>da</strong> e ignorante, não governa<strong>da</strong> por discursos <strong>da</strong><br />

prudência, disposições de leis ou ditames de sabe<strong>do</strong>ria ver<strong>da</strong>deira, senão por<br />

sua indiscrição popular e sem fun<strong>da</strong>mento; tratarei agora algumas razões que<br />

quan<strong>do</strong> não cheguem a sossegar de to<strong>do</strong> vossos desgostos, sirvam ao menos<br />

de avaliar muita parte de vosso sofrimento.<br />

Não nego que a <strong>do</strong>r de ver-se um esposo ofendi<strong>do</strong> de sua esposa seja<br />

grande aflição, penosa, áspera de sofrer, difícil de consolar, que, se como disse<br />

o Séneca 266 , não há ânimo tão agreste, nem pessoa tão rústica e humilde a<br />

quem uma ofensa não altere, um agravo não a atormente, com muito maior<br />

razão se deve sentir a ofensa causa<strong>da</strong> <strong>da</strong> pessoa de quem mais se esperava o<br />

favor, a ingratidão de quem mais se esperava o conhecimento, o agravo de<br />

quem se prometia o benefício. Porém querer fazer firmeza na maior mu<strong>da</strong>nça,<br />

intentar estabelecer a cousa mais instável, ou fica sen<strong>do</strong> desejo bal<strong>da</strong><strong>do</strong> ou<br />

empenho impossível, e assim sen<strong>do</strong> a mulher a cousa mais mudável na vi<strong>da</strong>,<br />

como disse Virgílio 267 , que firmeza se pode prometer em tanta livian<strong>da</strong>de e<br />

inconstância? Geralmente falo, as excepções não reprovo. Não puderam, na<br />

ver<strong>da</strong>de, muitos reis poderosos e monarcas soberanos isentar-se de seus<br />

agravos, e porventura que a este intento falou o Séneca quan<strong>do</strong> disse que não<br />

havia poder nem majestade, por mais soberana que fosse, que totalmente<br />

pudesse isentar-se de ser agrava<strong>da</strong> e ofendi<strong>da</strong>. Testemunhas sejam Filipe, rei<br />

de Macedónia, pai <strong>do</strong> grande Alexandre, ofendi<strong>do</strong> de sua mulher Olímpias,<br />

Ptolomeu, rei <strong>do</strong> Egipto, por Cleópatra, Menelau, rei de Esparta, por Helena,<br />

Minos, rei de Creta, por Pasifae, Agides, rei de Esparta, por Timea, o grande<br />

Sen., Epist. 47.<br />

Virgil., /Eneid. 4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!