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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 697<br />

discursos não alcançam. Em esta<strong>do</strong> me vejo para poder pagar à senhora<br />

Estela a dívi<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que em Balena lhe reconheço, com a receber por<br />

esposa, pois já de minha mãe tenho o consentimento; que estiman<strong>do</strong> hoje nela<br />

o muito que merece, me julga por venturoso em ver-me nela emprega<strong>do</strong>. Já<br />

não há quem minha eleição contradiga, e agora só me avalio feliz em poder<br />

conseguir esta ventura, sempre de mim deseja<strong>da</strong> e <strong>da</strong> fortuna impedi<strong>da</strong>, se<br />

merecer tanto bem como desejo, para que dê a meus corações os parabéns.<br />

Calou Salviano, e meus pais, para <strong>da</strong>rem a resposta, chamaram a<br />

Estela, pois de sua vontade a resolução pendia. Veio ela aonde estávamos e,<br />

sem mostrar no rosto sombras de alteração, respondeu:<br />

- Está hoje, Salviano, meu coração tão feri<strong>do</strong> de teus passa<strong>do</strong>s enganos<br />

que com razão se mostra duvi<strong>do</strong>so de tuas ver<strong>da</strong>des e, temeroso de poder ser<br />

engana<strong>da</strong>, não permite mostrar-me agradeci<strong>da</strong>. Faltaste-me quan<strong>do</strong> te merecia<br />

mais; pois como me assegurarei de tuas palavras quan<strong>do</strong> meu descui<strong>do</strong> te<br />

merece menos? E se não te compadeceste de mim quan<strong>do</strong> por tua causa vias<br />

meu crédito mais murmura<strong>do</strong>, como te mostras tão pie<strong>do</strong>so quan<strong>do</strong> hoje na<br />

clausura de meu recolhimento o considero mais seguro? Se imaginas que o<br />

buscar-me é favor que me fazes, eu por tal o não avalio; pois me procuras<br />

viúvo e me deixaste quan<strong>do</strong> vivias solteiro, e quan<strong>do</strong> me eram devi<strong>da</strong>s as<br />

premissas de teu cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, me ofereces o que <strong>do</strong> jogo <strong>da</strong> fortuna te sobra dele.<br />

Nem meu desvelo hoje te procura, nem de ti minhas memórias se lembram,<br />

que aprenderam de tuas sem-razões a esquecerem-se e minhas mágoas a<br />

lembrarem-se, umas por arrependi<strong>da</strong>s e outras por mal remunera<strong>da</strong>s. Dizes<br />

que te defendi a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> tirania <strong>do</strong>s foragi<strong>do</strong>s: estimo que me conhecesses<br />

pie<strong>do</strong>sa, quan<strong>do</strong> para comigo quebravas as leis de to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de em<br />

vires multiplicar-me os pesares ain<strong>da</strong> no próprio desterro em que vivia; pois<br />

viste que foi meu amor mais ver<strong>da</strong>deiro quan<strong>do</strong> ofendi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que o teu para<br />

mim quan<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong>. Se an<strong>da</strong>ste acerta<strong>do</strong> em deixar-me, pouco tens de que<br />

arrepender-te. E se confessas que erraste, pouco tens com que obrigar-me.<br />

Dizes que a senhora Laurência dá seu consentimento para que sejas meu<br />

esposo: em outra ocasião lhe pudera dever mais minha ventura, pois derrotou<br />

as asas a minhas malogra<strong>da</strong>s esperanças. Porém por que não digas que<br />

procuro mostrar-me vingativa sobre queixosa, quan<strong>do</strong> ela me diga que o

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