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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 943<br />

- Estimara eu, ínclito senhor, poder ser tão sábio que pudera minha<br />

resposta manifestar a vossa excelência meu coração na candura de servi-lo,<br />

sen<strong>do</strong> juntamente discreto conselheiro e leal cria<strong>do</strong>, para que minhas palavras<br />

nem se desviassem <strong>do</strong> útil a seu maior decoro, nem faltassem ao afectuoso de<br />

seu desejo. Porém sen<strong>do</strong> efeitos tão encontra<strong>do</strong>s a decência com o apetite e a<br />

utili<strong>da</strong>de com o gosto, quem navega entre Cila e Caribdis quan<strong>do</strong> não perigue<br />

em ambos, mal se livra de naufragar em algum. Que vossa excelência amasse<br />

a fermosura de Fenisa não é maravilha, sen<strong>do</strong> ela o maior aplauso de si<br />

mesma; pois to<strong>do</strong> o louvor fica sen<strong>do</strong> menos, quan<strong>do</strong> ela de seus encómios<br />

fica sen<strong>do</strong> sempre o mais. Conheço que os monarcas, os reis e os príncipes<br />

soberanos não são na enti<strong>da</strong>de de diferente natureza que seus vassalos para<br />

poderem amar e aborrecer, que são objecto em que a vontade humana<br />

livremente se exercita, como ensinam Aristóteles 948 e Santo Agostinho 949 e S.<br />

Bernar<strong>do</strong> 950 . Nem é admiração que amante a pretendeste, sen<strong>do</strong> lisonjas <strong>da</strong><br />

afeição e arrojos <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência, que nem sempre atendem ao mais decoroso<br />

e louvável. Nem me admira que Fenisa tão honrosamente resistisse a tão<br />

repeti<strong>da</strong>s finezas, porque sen<strong>do</strong> tão ilustre como sabemos que é e tão ajuiza<strong>da</strong><br />

como fermosa, mal podia admitir galanteios de um príncipe que não condizia<br />

para seu esposo.<br />

Retirou-se de Módena para a quinta de Bom <strong>Porto</strong>, furtan<strong>do</strong> a vista à<br />

inquietação e meten<strong>do</strong> terra em meio aos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s: acção foi de discreta e<br />

empenho de decorosa em que não merece censura sua modéstia, antes<br />

louvor. Fugir aos perigos é meio eficaz para vencê-los, diz o Séneca 951 , porque<br />

com dificul<strong>da</strong>de os evita quem de rosto os espera. Viu-se Fenisa com as<br />

instâncias de vossa excelência persegui<strong>da</strong>, tão repeti<strong>da</strong> a bataria de dia com<br />

cartas e passeios e de noite com ron<strong>da</strong>r as ruas e as casas, de que eu sou <strong>da</strong>s<br />

mais testemunha, como quem lhe assistia; que escolheu por remédio o retirar-<br />

se para evitar em seus pais o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, em seus irmãos o perigo e em seu<br />

crédito o desluzimento que ocasionar-se podia, fazen<strong>do</strong> <strong>da</strong> ausência escu<strong>do</strong><br />

Arist., Rhet. 2.<br />

Aug., Ser. de verb. Apost.<br />

Bern., De lib. orbit.<br />

Senec, Epist. 117.

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