17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 405<br />

to<strong>do</strong> o preço que pedissem e ain<strong>da</strong> com remitir-lhes o grande tributo que de<br />

muitos anos lhe deviam, eles a não quiseram largar, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> por escusa que<br />

sen<strong>do</strong> a sua ci<strong>da</strong>de pequena, só por razão desta estátua de mármore era no<br />

mun<strong>do</strong> celebra<strong>da</strong> e conheci<strong>da</strong>, navegan<strong>do</strong> a ela de muitas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

várias gentes com os desejos de vê-la; discreta escusa e briosa para que<br />

Nicomedes mais na petição não instasse. Porém com maior razão podia eu<br />

dizer que ficava Ferrara mais conheci<strong>da</strong> com ter em Amatilde tão raro original<br />

<strong>da</strong> fermosura <strong>do</strong> que a fazem celebra<strong>da</strong> os triunfos de seus primeiros<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res e a magnificência <strong>do</strong>s que tanto depois aumentaram seu senhorio.<br />

Não acrecentou o traje cortesão sua beleza, mas realçou tanto seu garbo que<br />

parece que no monte representava papel de lavra<strong>do</strong>ra mas que havia naci<strong>do</strong><br />

cortesã, que era disfarce o camponês e natural o poli<strong>do</strong>, que se ensaiara de<br />

pastora mas que jubilara de senhora, que vivera sempre no paço e que se<br />

divertira no campo.<br />

Um dia pois que eu já convalecente deci ao jardim em que ela estava a<br />

<strong>da</strong>r enveja às flores com sua vista, já resoluto em o fim de meus discursos, lhe<br />

disse:<br />

- Qual seja meu amor, queri<strong>da</strong> Amatilde, tu o sabes, que não te formou<br />

a natureza menos discreta que fermosa, e assim não é possível que ignores o<br />

que tantas vezes meus desvelos publicam e meus senti<strong>do</strong>s declaram. Muito<br />

deves à natureza em formar-te tão bela, muito deves à ventura em fazer-te tão<br />

ditosa que chegues a ser com extremos queri<strong>da</strong> sem <strong>da</strong>res a menor sombra de<br />

querer. O que te negou a natureza em nasceres humilde, te compensou em<br />

fazer-te tão briosa, que vences com a estimação o tosco nascimento e com o<br />

recato <strong>da</strong> isenção o humilde <strong>do</strong> montanhês. Meu amor para contigo foi rio que<br />

não sabe voltar atrás sua corrente; porque nem se arrepende de amar-te, nem<br />

confia de vencer-te. São mui desiguais as armas de minhas finezas com as de<br />

tua isenção, pois como nunca te dás por obriga<strong>da</strong> de seres queri<strong>da</strong>, não é<br />

muito que possa mais tua condição que meus serviços. Quem entra no desafio<br />

acobar<strong>da</strong><strong>do</strong> não é admiração o sair dele venci<strong>do</strong>: que são prelúdios certos <strong>do</strong><br />

triunfo <strong>do</strong> contrário pelejar com desconfianças <strong>da</strong> vitória. Isto digo, Amatilde,<br />

porque perten<strong>do</strong> ser teu esposo, se merecer que esse me aceites. Considera<br />

se é fino meu amor, pois se rende a tal parti<strong>do</strong>, que quan<strong>do</strong> o vulgo me conjure<br />

de arroja<strong>do</strong> na escolha, então me avalio eu por mais ajuiza<strong>do</strong> na eleição e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!