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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 745<br />

insolências <strong>do</strong> soberbo Tarquínio se acabaram os reis de Roma e se<br />

governaram por cônsules, que era a suprema digni<strong>da</strong>de; porém tão sujeita às<br />

mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> fortuna, que sen<strong>do</strong> Espúrio Cássio cônsul em Roma, no dia que<br />

acabou o consola<strong>do</strong>, o fizeram citar os tribunos <strong>do</strong> povo e questores de Roma,<br />

por dizerem que afectava a fazer-se senhor de Roma; e condena<strong>do</strong> à morte<br />

pelo povo, o despenharam <strong>da</strong> roca Tarpeia. Que conseguiu Júlio César de<br />

fazer-se empera<strong>do</strong>r, senão o ser morto no sena<strong>do</strong>, na conjuração de Cássio e<br />

Bruto? E no seguimento <strong>da</strong> coroa, o seguiram juntamente na morte violenta<br />

que tiveram Nero, Otão, Galba, Domiciano, Cómo<strong>do</strong>, Pertinaz, Antonino,<br />

Macrino, Alexandre, Maximino, Gordiano e outros inumeráveis, de sorte que<br />

parecia an<strong>da</strong>r avincula<strong>do</strong> o violento ao majestoso <strong>da</strong> imperial coroa.<br />

Pois se considerarmos a outras coroas e ceptros de outros reis<br />

particulares e príncipes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que diremos de Mitri<strong>da</strong>tes, poderoso rei de<br />

Ponto e grande parte <strong>da</strong> Ásia; de Jugurta, rei de Numídia; de Filipe, rei de<br />

Macedónia; de Seleuco, rei de Ásia, companheiro <strong>do</strong> grande Alexandre; de<br />

Prusias, rei de Bitínia; de Agides, rei de Esparta; de Can<strong>da</strong>ules, rei de Lídia, e<br />

finalmente de outros inumeráveis reis, príncipes e potenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que<br />

com veneno ou ferro acabaram miseravelmente as vi<strong>da</strong>s? Que firmeza pode<br />

prometer-se, quan<strong>do</strong> as digni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tão lamentavelmente acabam?<br />

Não se isenta a sabe<strong>do</strong>ria, como se viu em Colístenes, Demóstenes, Cícero,<br />

Marco António, Prisco, Séneca e Lucano, to<strong>do</strong>s violentamente mortos; nem se<br />

isenta a fermosura, como testemunham Mariene em Palestina, Lucrécia em<br />

Roma, Cleópatra em Egipto, Sofonisba em Cartago, que ou por suas próprias<br />

mãos, ou por mãos alheias, violentamente perderam as vi<strong>da</strong>s; que como disse<br />

Euripides 629 , tem esta mortal nome de vi<strong>da</strong>, mas to<strong>da</strong> se pode com razão<br />

intitular trabalho e pena. Assi o diz S. Gregório Papa 630 que são tantas as<br />

moléstias, discómo<strong>do</strong>s e pesares <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que a morte lhe fica servin<strong>do</strong> de<br />

remédio, sen<strong>do</strong>, como disse o padre S. Agostinho 631 , to<strong>do</strong> o discurso de viver<br />

caminho para encontrar a morte.<br />

Eurip., apud Plut.<br />

S. Gerg., Ser. 14.<br />

S. Aug., Lib. 3. De civ.

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