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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 259<br />

deliberei a responder-lhe e, sem tirarmos as armas <strong>da</strong>s mãos, nem a cautela<br />

<strong>do</strong>s olhos uns <strong>do</strong>s outros, lhe disse assim:<br />

- Se a paixão que vos senhoreia e a ira, senhor capitão, que vos cega<br />

deram (a) lugar a fazer tréguas o desgosto com a razão e o sentimento com o<br />

discurso, porventura que ouvin<strong>do</strong>-me nem vossa queixa parecerá tão excessiva<br />

no agravo, nem a ofensa tão desconfia<strong>da</strong> <strong>do</strong> remédio. Sentir com extremo os<br />

males quan<strong>do</strong> podem remediar-se é fazer desperdício <strong>da</strong> <strong>do</strong>r e infrutuoso o<br />

sentimento: só na ver<strong>da</strong>de aqueles males devem sentir-se que de remédio<br />

carecem, pois de to<strong>do</strong> fecham as portas ao alívio; mas neste infortúnio em que<br />

de presente vos vedes, não falta razão que vos anime nem se impossibilita<br />

remédio que vossa pena modere.<br />

Primeiramente, se vos queixais de fugirmos <strong>da</strong> prisão, ao homem é<br />

natural a liber<strong>da</strong>de com que nasce e o cativeiro introduziu o uso <strong>da</strong>s gentes, e<br />

nenhum de nós vos jurou nem prometeu de não sair dela, e assim confiar em<br />

quem perde a liber<strong>da</strong>de que não procure os meios de consegui-la, quan<strong>do</strong> vê<br />

sua vi<strong>da</strong> arrisca<strong>da</strong>, mais é engano <strong>da</strong> confiança que prudência <strong>da</strong> cautela.<br />

To<strong>da</strong>s as cousas fora de seu natural estão violenta<strong>da</strong>s, e como a liber<strong>da</strong>de é<br />

tão natural ao homens, que sem ela estão violenta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> que é violento nem<br />

se pode prometer duração, nem segurança. Rei de Síria era Demétrio e fugiu<br />

<strong>da</strong> prisão em que os partos o tinham, como conta Marco António; e usardes<br />

connosco de vossa cortesia em não nos estreitar mais a prisão, como pudéreis<br />

fazer, em vós foi efeito <strong>do</strong> primor e em nós <strong>da</strong> ventura, não saber aproveitar-se<br />

de seus favores é perdê-los. A cousa mais forte, disse Tales Millessio 299 , é a<br />

necessi<strong>da</strong>de, porque tu<strong>do</strong> atropela e em na<strong>da</strong> repara: esta nos obrigou à<br />

fugi<strong>da</strong>, por estar a vi<strong>da</strong> de Alexandre em notório perigo e a nossa liber<strong>da</strong>de mui<br />

vagarosa. A esta favoreceram tanto to<strong>da</strong>s as nações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que para seu<br />

reparo edificaram templos que lhe servissem de refúgio, como foi em Pérgamo<br />

o de Esculápio, em Pafo o de Vénus, em Éfeso o de Diana, em Calidónia o de<br />

Palas, em Egipto o de Osíris, em Samo o de Juno e em Roma o de Apolo, e<br />

outros diversos: nos quais templos to<strong>do</strong>s os homizia<strong>do</strong>s que deles se valessem<br />

não eram ofendi<strong>do</strong>s. Se pois to<strong>da</strong>s as nações deram asilo à liber<strong>da</strong>de, que<br />

Enten<strong>da</strong>-se: derem, futuro imperfeito <strong>do</strong> conjuntivo.<br />

' Apud Diogen., Lib. 1.

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