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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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284 Padre Mateus Ribeiro<br />

mata<strong>do</strong>r, assim não éreis o objecto de sua vingança, e sen<strong>do</strong> sua morte tão<br />

mereci<strong>da</strong> e pela senhora Claudiana em defensa de sua honra tão<br />

valerosamente executa<strong>da</strong>, nem o <strong>caso</strong> era de procurar-se vingança, nem de<br />

serdes vós empenho de sua ira. Certeza disso infalível não há e só pende de<br />

opinião. Lá disse o Séneca que ninguém por opinião senão pelo certo se move,<br />

porque era levantar edifícios sobre bases sem fun<strong>da</strong>mento de que muitas<br />

vezes pelo arrependimento apenas ficam ruínas. Não parece certo arrojar-se a<br />

vinganças sem certezas, pois podia nascer o agravo antes ordena<strong>do</strong> por ânimo<br />

invejoso que ocasiona<strong>do</strong> por desejo vingativo. Disse Eusébio que assim como<br />

a sombra acompanha inseparavelmente a quem caminha ao sol, assim segue<br />

a inveja a quem logra melhoras ou na fortuna ou no valor. E o Séneca escreve<br />

que quantos são os olhos que se ocupam e um felice, tantas são as invejas<br />

que como a alvo lhe tiram os corações. E como vós, senhor, entrastes em<br />

Nápoles com tantos aumentos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> em que dela saístes, que maravilha<br />

seria o serdes de muitos inveja<strong>do</strong>? E sen<strong>do</strong> a inveja comum, quem poderia<br />

acertar <strong>do</strong>nde procedesse o agravo particular?<br />

E quan<strong>do</strong> estivésseis de to<strong>do</strong> certo que de Raimun<strong>do</strong> por sua ordem a<br />

ofensa nascesse, que mais vingança procurais que a que dele tomastes?<br />

Deste-lhe assalto, escapou <strong>da</strong> morte mal feri<strong>do</strong> e fugin<strong>do</strong>, saqueaste-lhe a<br />

casa, despojan<strong>do</strong>-o de quanto nela tinha, pois que maior satisfação de um<br />

agravo duvi<strong>do</strong>so quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> pudera ser justifica<strong>do</strong> por mui certo? Se com<br />

tanto zelo, senhor Frederico, seguis vinganças <strong>da</strong> honra, como dela vos<br />

mostrais tão diverti<strong>do</strong> que não considerais que os instrumentos que tomais<br />

para vingá-la são próprios meios de perdê-la? Não advertis o título<br />

escan<strong>da</strong>loso que adquiris, odioso a vossa pátria, a quem diz Cícero que se<br />

deve igualar com o mesmo amor <strong>do</strong>s pais? El-rei Codro de Atenas<br />

voluntariamente se ofereceu disfarça<strong>do</strong> à morte para que a ci<strong>da</strong>de ficasse livre<br />

e <strong>do</strong> perigo isenta. Quantos filhos de Roma se dedicaram à morte por livrá-la e<br />

os ci<strong>da</strong>dãos de Numância por não a renderem aos romanos se privaram <strong>da</strong>s<br />

vi<strong>da</strong>s? E vós, senhor, sen<strong>do</strong> filho de Nápoles a trazeis intimi<strong>da</strong><strong>da</strong> e a seus<br />

mora<strong>do</strong>res, vossos naturais, e aos estrangeiros que a ela vem assombra<strong>do</strong>s de<br />

temor, sem terem culpa em vosso desgosto.<br />

Em seguir-vos a justiça e em perseguir-vos o vice-rei não podeis<br />

justamente queixar-vos, que é empenho de seu cargo e precisa obrigação de

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