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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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534 Padre Mateus Ribeiro<br />

povo, ensina Quintiliano , a qualquer <strong>do</strong>s pareceres; porque o que hoje louva,<br />

amanhã rejeita, e o que ontem aborrecia, hoje aclama, e o que hoje estima,<br />

amanhã persegue.<br />

Quan<strong>do</strong> Lisandro, capitão <strong>do</strong>s lacedemónios, depois de vários assaltos<br />

que deu à ci<strong>da</strong>de de Atenas, a tomou por armas, entran<strong>do</strong>-a vence<strong>do</strong>r, pôs e<br />

deixou nela, para que mais se não eximisse <strong>da</strong> sujeição em que ficava, o<br />

senhorio de Esparta a trinta governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> povo, por que com a varie<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s pareceres jamais pudessem rebelar-se, pois o que uns aprovassem por<br />

útil, outros haviam de reprovar por <strong>da</strong>noso. A Públio Sulpício, tribuno <strong>do</strong> povo<br />

em Roma, tu<strong>do</strong> quanto intentava conseguia <strong>do</strong> povo em vi<strong>da</strong>, e tanto que<br />

morreu, negou-lhe o povo a sepultura. A Mânlio Capitolino, que tanto tinha<br />

mereci<strong>do</strong> ao povo romano, assim em haver defendi<strong>do</strong> o Capitólio, <strong>do</strong>nde tomou<br />

o nome, como em se odiar com os sena<strong>do</strong>res e cavaleiros romanos, por acudir<br />

pelo povo, por sentença dele mesmo foi man<strong>da</strong><strong>do</strong> despenhar <strong>do</strong> Capitólio, e<br />

morreu tão ingratamente persegui<strong>do</strong>. Mas para que recorro eu a exemplos<br />

antigos, quan<strong>do</strong> temos outro tão fresco na memória? Em Lucca, vossa pátria,<br />

tereis sabi<strong>da</strong> a história memorável de Paulo Guinisio, que com o favor <strong>do</strong> povo<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se levantou com o senhorio absoluto dela, por espaço de trinta anos,<br />

em que adquiriu excessivas riquezas, sen<strong>do</strong> não só <strong>do</strong> povo ama<strong>do</strong> e<br />

respeita<strong>do</strong> com grande veneração, mas ain<strong>da</strong> estima<strong>do</strong> <strong>do</strong>s príncipes de Itália<br />

por seu grande poder e riquezas; e no fim deste tempo, em que parecia que a<br />

felici<strong>da</strong>de de sua opulência estava mais segura, se levantou o povo contra ele<br />

e prendeu-o com cinco filhos que tinha; haven<strong>do</strong>-o despoja<strong>do</strong> de quantas<br />

riquezas possuía, o man<strong>da</strong>ram preso a Filipe, visconde duque de Milão, que<br />

era seu contrário. Onde ele e seus filhos, pobres e presos, acabaram as vi<strong>da</strong>s.<br />

Sen<strong>do</strong> pois o povo tão mudável e seu favor tão incerto, como temos<br />

visto, e ten<strong>do</strong> meu sobrinho Sílvio a vós e a Justiniano com os principais <strong>da</strong> sua<br />

parte, nem desconfio <strong>do</strong> vencimento, pois o patrocina a justiça, nem me<br />

atemoriza o favor <strong>do</strong> popular que a Eusébio aplaude; que se o interesse <strong>do</strong><br />

outro é bastante para o suborno, nem sempre é poderoso para prosseguir o<br />

desejo. Prudente an<strong>do</strong>u Licurgo entre as leis que deu aos lacedemónios, em<br />

ordenar que a moe<strong>da</strong> que em Esparta houvesse para o comércio fosse só de<br />

Qint., Declam. 11.

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