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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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698 Padre Mateus Ribeiro<br />

aprova, então aprovarei eu o que pretendes; porque de outra sorte nem tu tens<br />

mais que falar-me, nem eu que ouvir-te.<br />

Com esta resolução respondeu Estela a Salviano. E despedin<strong>do</strong>-se com<br />

a devi<strong>da</strong> cortesia, se retirou de sua vista, que mostrou ficar entre confuso e<br />

admira<strong>do</strong> de se considerar na memória de Estela tão esqueci<strong>do</strong>, que mostrava<br />

estimar em pouco o que em outro tempo ela avaliava em muito. Meus pais lhe<br />

disseram que Estela respondera como senti<strong>da</strong> e juntamente como acautela<strong>da</strong>.<br />

Porém em lhe constan<strong>do</strong> que a senhora Laurência era contente <strong>do</strong> casamento<br />

proposto, nós to<strong>do</strong>s o aceitaríamos e ela se asseguraria na ventura que<br />

alcançara em merecer ser esposa sua. E <strong>da</strong>n<strong>do</strong> notícias a sua mãe <strong>do</strong> que<br />

com Estela passara, ela, que o viu molesta<strong>do</strong> com a dilação e tão empenha<strong>do</strong><br />

no desejo <strong>do</strong> casamento, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> chamar a meu pai, lhe manifestou o<br />

grande gosto que tinha de que minha irmã com seu filho casasse. Com o que<br />

to<strong>do</strong>s alegres, em breves dias se celebraram os desposórios, que não pouco<br />

admiraram a Perúsia: pois <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se na primeira ocasião tantas contraditas,<br />

to<strong>da</strong>s agora se convertiam em aplausos.<br />

É a varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> o matiz que o faz pela novi<strong>da</strong>de mais vistoso.<br />

As cousas sempre no mesmo ser poderão ser testemunhas <strong>da</strong> firmeza, mas<br />

não objectos <strong>da</strong> admiração. A luz continua<strong>da</strong> no sol poucos olhos incita para<br />

ser vista; porém se se esconde nos desmaios de seu eclipse e no desusa<strong>do</strong><br />

rebuço de sua sombra, atrai logo aos olhos para ser visto no luzi<strong>do</strong>. É a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> mortal vi<strong>da</strong>, disse Euripides 590 , incessável no acidente, sen<strong>do</strong> um<br />

dia nos favores mãe e outro nos disfavores madrasta, um que afugenta com o<br />

rigor e outro em que lisonjeia com as carícias. Ain<strong>da</strong> disse pouco em variar os<br />

dias, quan<strong>do</strong> em um mesmo dia se mostra tão vária a fortuna; disse Cícero 591<br />

que o que se via vence<strong>do</strong>r, de repente se considera venci<strong>do</strong>. Assim sucedeu<br />

ao francês Carlos, rei de Nápoles e Sicília, que sen<strong>do</strong> na cruel batalha o seu<br />

exército venci<strong>do</strong> e derrota<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valerosos sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> contrário exército de<br />

Conradino, que rei de Nápoles se chamava, por se desordenarem os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

vence<strong>do</strong>res aos despojos <strong>do</strong>s já venci<strong>do</strong>s, refazen<strong>do</strong> Carlos as esquadras,<br />

repentinamente deu o novo sobre os vence<strong>do</strong>res e os desbaratou, prenden<strong>do</strong> a<br />

Eurip., in Hyp.<br />

Cicer., Phil. 5.

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