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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 879<br />

que não é descrédito <strong>do</strong> valor o chorar de enterneci<strong>do</strong>, pois Eneias, Alexandre,<br />

Augusto e Júlio César choraram, se pôs de joelhos, pedin<strong>do</strong>-lhe perdão; a<br />

quem ela, levantan<strong>do</strong>-o nos braços e fazen<strong>do</strong> se assentasse, com as lágrimas<br />

nos olhos disse assi:<br />

- Pedes-me, ó Roberto, perdão <strong>da</strong> tirania que tens usa<strong>do</strong> comigo,<br />

apuran<strong>do</strong>-me a paciência e pon<strong>do</strong>-me a vi<strong>da</strong> ao maior perigo de teu rigor: não<br />

sei eu que maior cruel<strong>da</strong>de podia censurar-se que pores meu sofrimento ao<br />

maior risco de perder-se e minha vi<strong>da</strong> aos ameaços executivos de um punhal.<br />

Oh que tarde chega um desengano a favorecer uma infelice! Como te<br />

desenganaste tarde <strong>do</strong>s méritos de minha fé, <strong>da</strong> leal<strong>da</strong>de de meu coração e<br />

<strong>da</strong>s finezas de meu amor! Obraste como cioso e não como entendi<strong>do</strong>, pôde<br />

mais contigo um pensamento engana<strong>do</strong> <strong>do</strong> que uma vontade ver<strong>da</strong>deira!<br />

Puderas considerar, antes de precipitar-te a querer ofender-me, que não<br />

podia desvelar-se por cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s alheios quem te tinha por alvo de seus<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Não admite um coração <strong>do</strong>us empenhos, nem uma vontade <strong>do</strong>us<br />

senhores; para que sacrificaste finezas a quem aborrecia, quan<strong>do</strong> eu só a ti as<br />

dedicava, a quem com extremos amava? Puderas, Roberto, considerar que<br />

interesses me poderiam persuadir a ofender-te. Se interesses? Tu<strong>do</strong> me<br />

sobrava, tiran<strong>do</strong> a ventura. Se dádivas? De tu<strong>do</strong> o que possuis era eu senhora.<br />

Se gentileza? Dela te <strong>do</strong>tou liberal a natureza. Se honra? Como podia <strong>da</strong>r-se<br />

em tal desaire, fican<strong>do</strong> perden<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a estimação, pois como se persuadiria<br />

um amante que podia guar<strong>da</strong>r-lhe fé quem não guar<strong>da</strong>va fé a seu mari<strong>do</strong>? Não<br />

bastou o ter-te tão obriga<strong>do</strong> para considerar-te agradeci<strong>do</strong>? Não foi bastante a<br />

clausura de meu recolhimento para desfazer a névoa de tua desconfiança?<br />

Não pôde o sincero de meu coração desterrar o aparente de teus receios? Oh<br />

sorte cruel! Oh adversa estrela! Que não pôde Lívia com a buril de suas<br />

lágrimas lavrar o diamanta<strong>do</strong> de teu peito, nem com a lima de minhas finezas<br />

aclarar o escuro de teus rigores! Deras, Roberto, tempo a poder desenganar-te<br />

o mesmo tempo, fizeras tréguas com teus devaneios, desapaixonaras o rigor<br />

até se manifestar a ver<strong>da</strong>de e vieras a conhecer o muito que me devias e o mal<br />

que me pagavas. Considera a grande baixa que vieram a <strong>da</strong>r minhas venturas,<br />

mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nome e trocan<strong>do</strong> traje, peregrina por terras alheias, com a vi<strong>da</strong> a mil<br />

discómo<strong>do</strong>s e perigos ofereci<strong>da</strong>, assusta<strong>da</strong> de temores, combati<strong>da</strong> de

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