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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 53<br />

Decorren<strong>do</strong> a acção narrativa sobretu<strong>do</strong> em terras de Itália, com uma<br />

incursão por terras de Espanha, na narrativa <strong>do</strong> Peregrino Dionísio, e noutras<br />

histórias por terras muçulmanas, a eleição <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des nomea<strong>da</strong>s parece ser<br />

arbitrária em muitas <strong>da</strong>s narrativas, pois as suas descrições não variam muito,<br />

insistin<strong>do</strong> habitualmente na sua origem remota, na presença de um rio<br />

concreto, nas suas torres ou castelos e nos seus habitantes mais ilustres. A<br />

escolha de Itália para palco <strong>da</strong>s principais narrativas compreende-se por ser<br />

um país tradicionalmente frequenta<strong>do</strong> nestes textos de ficção em prosa, tal<br />

como as incursões pela Flandres para narrar as guerras nela verifica<strong>da</strong>s, ou<br />

ain<strong>da</strong> a procura de um certo exotismo na localização de sequências narrativas<br />

em Constantinopla ou a referência à Trácia ou à Hungria, tão ao gosto <strong>do</strong><br />

imaginário <strong>do</strong>s leitores.<br />

Deixamos proposita<strong>da</strong>mente para o fim a referência aos espaços<br />

sagra<strong>do</strong>s que, retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> espaço citadino, assumem uma importância<br />

fun<strong>da</strong>mental na concretização de um ideal de vi<strong>da</strong> que se pretende incutir nos<br />

leitores, alicerça<strong>do</strong> no desengano e na união com Deus. Com efeito, o encontro<br />

entre o Ermitão e o Peregrino Dionísio dá-se num local próximo <strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> em<br />

que Felisberto se retirara <strong>da</strong>s lisonjas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>:<br />

"ermi<strong>da</strong> dedica<strong>da</strong> à Virgem Santíssima, mora<strong>da</strong> e lugar próprio para sujeitos<br />

desengana<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s vai<strong>da</strong>des <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, onde o penitente Ermitão hospe<strong>do</strong>u ao<br />

desengana<strong>do</strong> Peregrino, além <strong>do</strong> pobre agasalho e sustento limita<strong>do</strong> que lhe deu com<br />

uma grande vontade, mostran<strong>do</strong> quanto esta, sen<strong>do</strong> boa e perfeita, excede a to<strong>da</strong>s as<br />

iguarias e dádivas. E aí ficou de assento, abraçan<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> eremítica e solitária,<br />

servin<strong>do</strong>-lhe esta com aspereza de desengano à passa<strong>da</strong> licenciosa com o<br />

distraimento, sem que o desvelassem ambições, nem o ofendessem cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s." 9 ^<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I., "Abreviação", p.106.<br />

Mais tarde insiste-se na acerta<strong>da</strong> escolha <strong>da</strong>queles que decidem viver isola<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

entregan<strong>do</strong>-se à contemplação divina: "Era dedica<strong>da</strong> à Virgem Santíssima Mãe de Deus, cuja<br />

devota imagem no altar estava e a ermi<strong>da</strong> a<strong>do</strong>rna<strong>da</strong> de muitas flores que a abundância <strong>do</strong>s<br />

pra<strong>do</strong>s vezinhos e a devoção curiosa <strong>do</strong> Ermitão lhe ofereciam. Era o sítio solitário e próprio<br />

para uma vi<strong>da</strong> contemplativa; que a solidão é de quem se fiam os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> alma e a<br />

conversação que mais contenta a quem bem a conhece. Era o lugar próprio para sujeitos<br />

desengana<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s afeições e <strong>do</strong> pouco fun<strong>da</strong>mento que nas esperanças <strong>da</strong> terra deve fazer-<br />

se, pouco preço e cabe<strong>da</strong>l em que as promessas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e suas lisonjas devem estimar-se."<br />

Partell, p.217.

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