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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 613<br />

consente. As riquezas de Júlio Galeazzo, eu as escuso. Que quan<strong>do</strong> meu pai<br />

não possuíra tantas com que assegurar meu esta<strong>do</strong>, bastante o era para mim a<br />

clausura de um convento, em abono de que nenhuma ambição foi poderosa<br />

para persuadir-me a terminar a lembrança e <strong>da</strong>r tréguas ao justo sentimento de<br />

tão injusta morte.<br />

Deu fim Aurora ao discurso e princípio ao enterneci<strong>do</strong> com algumas<br />

lágrimas; que nunca perde a aurora os aplausos <strong>da</strong> beleza por se mostrar<br />

chorosa, sen<strong>do</strong> os aljofra<strong>do</strong>s dilúvios que derrama pérolas que a tocam, jóias<br />

que a enriquecem. Moveram em Octávio, seu pai, de novo enterneci<strong>da</strong>s<br />

memórias suas lágrimas. Que para um coração justamente magoa<strong>do</strong>, menos<br />

incentivos são poderosos para demover ao maior sentimento. Ain<strong>da</strong> em<br />

Claudiano deram rebate nos olhos uns assaltos de sentimento; mas ven<strong>do</strong>,<br />

como discreto, que vinham a perigar os efeitos de eloquente nos assomos de<br />

compassivo, e lembran<strong>do</strong>-se que viera a persuadir a uma vontade de quem<br />

pendia de Júlio a vi<strong>da</strong>, destas famílias a paz e de Bolonha o sossego, além <strong>do</strong><br />

crédito de suas letras e opinião de sua pessoa em conseguir venturoso o que<br />

emprendeu confia<strong>do</strong>, fingin<strong>do</strong> no rosto alegria e disfarçan<strong>do</strong> a pena no<br />

coração, acções próprias de ora<strong>do</strong>r eloquente, replicou, dizen<strong>do</strong>:<br />

- E bem, senhora Aurora, há-de ser em vós mais poderosa a tristeza<br />

que a razão, o passa<strong>do</strong> que o presente, o particular que o público, o vingativo<br />

que o pie<strong>do</strong>so e o estranha<strong>do</strong> que o aplaudi<strong>do</strong>? Não posso persuadir-me tal de<br />

vosso grande juízo, que, por perpetuardes um sentimento, queirais eternizar<br />

uma discórdia. Sen<strong>do</strong> esta (como disse Tito Lívio 551 ) tão nociva que de uma<br />

ci<strong>da</strong>de faz duas pela desunião <strong>da</strong>s vontades. Codro, rei de Atenas, na cruel<br />

guerra que contra sua pátria moveram conjura<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Peloponeso,<br />

voluntariamente se ofereceu à morte, só para assegurar-lhe a conservação.<br />

Para arruinar uma ci<strong>da</strong>de poderosa, diz Vegécio 552 que o meio mais eficaz era<br />

o semear discórdias entre os ci<strong>da</strong>dãos mais poderosos dela. Donde veio a<br />

dizer Valério Máximo que não menos generosa acção era acrescentar à pátria<br />

os bens <strong>do</strong> que, evitan<strong>do</strong> o perigo, perseverá-la <strong>do</strong>s males. Sen<strong>do</strong> esta a<br />

Tit. Liv., Lib. 6. dec. 1<br />

Vegec, Lib. 3.

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