17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1054 Padre Mateus Ribeiro<br />

arrogância, que assim como sua morte foi em geral <strong>do</strong> povo pouco senti<strong>da</strong>,<br />

assim a fugi<strong>da</strong> de Carlos com seu pai foi desculpa<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong> de muitos<br />

festeja<strong>da</strong>. O ser louva<strong>do</strong> <strong>do</strong> povo pende <strong>da</strong>s obras heróicas que em benefício<br />

<strong>da</strong> república o louva<strong>do</strong> faz; porém o ser <strong>do</strong> povo ama<strong>do</strong> tem origem na<br />

afabili<strong>da</strong>de e cortesia com que os corações se cativam, como se viu nesta<br />

ocasião. E não é felici<strong>da</strong>de pequena saber com o que custa tão pouco adquirir<br />

o geral aplauso de uma ci<strong>da</strong>de e república, que talvez importa muito.<br />

Foi logo o pai <strong>do</strong> morto com o séquito de seus parentes com grandes<br />

clamores queixar-se ao cardeal governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> improvisa fugi<strong>da</strong> de Carlos e<br />

seu pai. Mostrou no exterior o cardeal sentimento, e não duvi<strong>do</strong> que no interior<br />

a estimasse, por ser a melhor saí<strong>da</strong> que podia <strong>da</strong>r-se para livrar a seu parente.<br />

É no mun<strong>do</strong> uma política hipocrisia o vender uma alegria com a capa exterior<br />

<strong>da</strong> tristeza e dissimular o gosto com acidentes exteriores de pena, como em<br />

César chorar na morte de Pompeu e Augusto na de Marco António, sen<strong>do</strong> que<br />

para ficarem absolutos senhores <strong>do</strong> império romano lhas desejavam. Mostrou-<br />

se o cardeal senti<strong>do</strong> aos clamores <strong>da</strong>s partes em razão de seu governo,<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> logo chamar a conselho para se determinar o que convinha fazer-<br />

se; e se noutros negócios o conselho deve ser precisamente necessário, como<br />

disse Demóstenes 1167 , contu<strong>do</strong> nesta ocasião repentina mais parece que devia<br />

aplicar-se abrevia<strong>do</strong> remédio <strong>do</strong> que vagaroso conselho. Assim diz Séneca 1168 ,<br />

que no lugar <strong>do</strong> desafio com espa<strong>da</strong>s arranca<strong>da</strong>s já o conselho se escusa.<br />

To<strong>da</strong> esta dilação foi, pelo que depois alguns ajuizaram, em favor <strong>do</strong>s<br />

fugitivos, para que tivessem lugar de chegarem à raia que divide o senhorio de<br />

Módena com Bolonha, enquanto se consultavam os pareceres <strong>do</strong>s<br />

conselheiros, que muitas vezes se dividem em controvérsias e várias opiniões.<br />

Outros julgavam por necessário o conselho, porque como o filho <strong>do</strong> duque de<br />

Módena, com quem Bolonha tinha pazes assenta<strong>da</strong>s de muitos anos, tinha<br />

entra<strong>do</strong> com tropas arma<strong>da</strong>s em o senhorio de Bolonha sem licença <strong>do</strong> cardeal<br />

governa<strong>do</strong>r, era necessário em conselho assentar-se com madureza se se<br />

haviam de julgar as pazes por quebra<strong>da</strong>s ou se haviam de ficar em seu vigor, o<br />

que sem conselho não podia ajustar-se. Começaram os conselheiros a <strong>da</strong>r<br />

Dem., Exord. 19.<br />

Senec, Ep. 22.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!