17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 911<br />

outro se considera; e como to<strong>do</strong>s tinham a Manfre<strong>do</strong> por sumamente<br />

venturoso, assi era de to<strong>do</strong>s sumamente inveja<strong>do</strong> e igualmente aborreci<strong>do</strong>, que<br />

costuma a inveja mu<strong>da</strong>r as guar<strong>da</strong>s ao amor em aborrecimento. Deixarei as<br />

mágoas de tantos príncipes pretendentes e opositores ao casamento <strong>da</strong><br />

princesa Eurides, ven<strong>do</strong>-se para sempre excluí<strong>do</strong>s de suas esperanças e<br />

consideran<strong>do</strong> que um vassalo conseguisse por venturoso o que eles não<br />

puderam avançar por desgraça<strong>do</strong>s; poden<strong>do</strong> mais um sopro <strong>da</strong> ventura <strong>do</strong> que<br />

muitos assaltos <strong>do</strong> poder. Enfim pon<strong>do</strong> de parte tantos e tão intensos<br />

sentimentos que em to<strong>da</strong>s as partes desta fugi<strong>da</strong> se seguiram, acompanharei a<br />

Manfre<strong>do</strong> que com sua ama<strong>da</strong> Eurides de Trácia para Itália caminhavam, que<br />

pisan<strong>do</strong> em ca<strong>da</strong> passo <strong>da</strong> morte as sombras e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> os sustos na formidável<br />

jorna<strong>da</strong> que seguiam, ocultan<strong>do</strong>-se de dia e caminhan<strong>do</strong> de noite, desvian<strong>do</strong>-<br />

se <strong>do</strong>s caminhos de passageiros cursa<strong>do</strong>s e fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bosques e selvas<br />

mais incultas novas estra<strong>da</strong>s de seu temor cobertas, vieram venturosamente<br />

sem serem encontra<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s esquadras que os buscavam a parar no lugar em<br />

que ao presente agora se vê situa<strong>da</strong> a ilustre vila e castelo de Mirân<strong>do</strong>la, na<br />

Lombardia, pouco distante <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>losa corrente <strong>do</strong> tão celebra<strong>do</strong> rio Pó, sítio<br />

que naquele tempo era o mais inculto, fecha<strong>do</strong> de mui espesso arvore<strong>do</strong>, vale<br />

sombrio e solitário, distante <strong>da</strong>s povoações e que mais parecia idóneo para ser<br />

habita<strong>do</strong> de feras silvestres que de homens.<br />

Neste sítio tão deserto, a quem só as aves conheciam, julgou Manfre<strong>do</strong><br />

que só lhe convinha fazer habitação com Eurides e seus cria<strong>do</strong>s para não<br />

serem descobertos, que sabem a necessi<strong>da</strong>de e o temor avaliarem por<br />

<strong>do</strong>micílio vistoso e alegre o sítio que de si mesmo era triste e assombroso,<br />

como diz o Séneca 901 e escreve Cícero 902 . Era o sítio em tu<strong>do</strong> solitário e falto<br />

de alívio que só podiam fazer tolerável os assaltos <strong>do</strong> temor; porém a<br />

companhia de Eurides, a quem Manfre<strong>do</strong> com finezas amava, fazia parecer-lhe<br />

o deserto jardim delicioso, ten<strong>do</strong> sua fermosura atributos <strong>do</strong> sol que no jardim e<br />

no deserto igualmente brilha. Assistiam-lhe os <strong>do</strong>us fidelíssimos cria<strong>do</strong> e<br />

cria<strong>da</strong>, com cuja companhia e indústria fabricaram umas pastoris cabanas<br />

Senec, Epist. 120.<br />

Cicer., De Or.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!