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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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422 Padre Mateus Ribeiro<br />

tremi<strong>do</strong>, arroja<strong>do</strong> no que emprendia e majestoso no esta<strong>do</strong>, tratan<strong>do</strong>-se com<br />

tanta ostentação que muitos titulares o não excediam, mas antes alguns o não<br />

igualavam. Venceu-se <strong>do</strong> parecer de Amatilde, pareceu-lhe o título de<br />

marquesa que era próprio para se empenhar em ser seu esposo, e resoluto<br />

neste desejo pôs de parte to<strong>da</strong>s as obrigações e fechou os olhos a to<strong>do</strong>s os<br />

riscos.<br />

Tocavam as primeiras luzes o clarim de seus raios à chega<strong>da</strong> <strong>do</strong> sol,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> salva as músicas aves com seu canto, mais com receio que com<br />

estron<strong>do</strong>, que sempre os festejos mais agradáveis são os em que tem o gosto<br />

certo o suave e não o coração o receio <strong>do</strong> perigo. Deu meu pai logo ordem a<br />

preparar para a jorna<strong>da</strong>, mas Alberto o impedia dizen<strong>do</strong> que era justo<br />

descansar a marquesa <strong>da</strong> moléstia <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> esse dia, que pois se hospe<strong>da</strong>ra<br />

em sua casa, queria festejá-la como era devi<strong>do</strong> a tal pessoa. Não pesou a Dom<br />

Cláudio <strong>da</strong> demora, para ter mais lugar de solicitar o mesmo que Alberto<br />

pertendia, sem se haverem comunica<strong>do</strong> os pensamentos. Enfim venceu-se<br />

meu pai <strong>da</strong> cortesia, e Amatilde não se mostrou pesarosa <strong>da</strong> dilação, que como<br />

era para ser sua vin<strong>da</strong> festeja<strong>da</strong>, poucas vezes causa desgosto o aplauso<br />

quan<strong>do</strong> dele se não receia, nem descrédito que desluza, nem desaire que<br />

des<strong>do</strong>ure. O intento de Alberto era com os vagares conseguir <strong>do</strong>us fins: o<br />

primeiro obrigar e afeiçoar a Amatilde com os serviços e festas que por sua<br />

causa celebrava, e o segun<strong>do</strong> ter lugar com a dilação para traçar mais<br />

como<strong>da</strong>mente o roubá-la aos que a acompanhavam, ten<strong>do</strong> por certo que se ela<br />

se desse por obriga<strong>da</strong> <strong>do</strong>s serviços, não se <strong>da</strong>ria por muito ofendi<strong>da</strong> <strong>do</strong> rapto<br />

nem <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s desposórios que de mim se prometiam.<br />

É a vontade humana fácil em variar de intentos, diz o Séneca 415 ; e Santo<br />

Agostinho 416 escreve que com mais facili<strong>da</strong>de se mu<strong>da</strong> para o mal que para o<br />

bem. Tem a vontade seu tribunal aonde muitas vezes o bem se desterra e o<br />

vício se aplaude, o mal passa sem castigo e o bem sem galardão, porque<br />

arrazoa pelo mal o desejo de segui-lo e pelo bem emudece a tibieza de<br />

procurá-lo. Solenizou Alberto o dia com músicas, esplêndi<strong>do</strong> banquete em que<br />

bem mostrava sua grandeza, e quis na tarde que houvesse comédia,<br />

5 Senec, Epist. 68.<br />

6 D. Aug., Ser. De verb Apost.

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