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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 773<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, e poden<strong>do</strong> vingar-me de Silvério, tratar com tal respeito a quem<br />

estava dedica<strong>da</strong> para ser sua, valentia foi de quem eu sou e triunfo foi de quem<br />

ela é, porque só ela pudera tão discretamente obrigar-me e só eu tão<br />

fi<strong>da</strong>lgamente obedecer-lhe como eu a seu rogo obedeci.<br />

Podereis culpar-me que a tirei de sua casa violenta<strong>da</strong>; bem pudera eu<br />

desfazer o criminoso desta culpa mostran<strong>do</strong> com Aristóteles que aonde se não<br />

dá movimento natural que repugne não se pode <strong>da</strong>r movimento contrário que<br />

violente, pois aonde não se dá resistência não tem lugar o violento. E como a<br />

senhora Florisela tinha com o sobressalto perdi<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, que o desmaio<br />

lhe sequestrou, mal podia repugnar a ser leva<strong>da</strong> quem não podia conhecer<br />

nem o lugar em que estava, nem ter sentimento <strong>do</strong> para onde a trasla<strong>da</strong>va<br />

quem em seus braços a levou. Daqui pudera inferir que aonde faltava a<br />

repugnância também faltaria a violência. Porém pon<strong>do</strong> isto à parte, como razão<br />

especulativa, digo, senhora Ricar<strong>da</strong>, que meu intento neste rapto <strong>da</strong> senhora<br />

Florisela foi só para ser minha esposa, porque ela ain<strong>da</strong> não está casa<strong>da</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> que a tenhais a Silvério Albertino prometi<strong>da</strong> por esposa. Bem conheceis<br />

que em mu<strong>da</strong>r de esposo na<strong>da</strong> fica perden<strong>do</strong>, antes ganhan<strong>do</strong>, e as<br />

circunstâncias muitas vezes obrigam a mu<strong>da</strong>r os intentos. Quan<strong>do</strong> Roma se viu<br />

nos temores de ser assalta<strong>da</strong> <strong>da</strong>s armas de Aníbal, faltan<strong>do</strong> as armas aos<br />

romanos, se valeram <strong>da</strong>s armas que nos templos estavam pendura<strong>da</strong>s por<br />

insígnias de suas passa<strong>da</strong>s vitórias; e o que se tinha ofereci<strong>do</strong> por dedicação<br />

de seus triunfos serviu para defensa de seus presentes perigos.<br />

O grande Pompeu, como escreve Apiano Alexandrino, se empenhou a<br />

favorecer a Júlio César com to<strong>do</strong> o valimento de seu poder, sen<strong>do</strong> o patrocínio<br />

e o apoio principal de ele chegar a tanta grandeza; e depois, ven<strong>do</strong> que<br />

aspirava César ao império, se pôs <strong>da</strong> parte <strong>do</strong> sena<strong>do</strong> romano e o perseguiu.<br />

Mu<strong>da</strong>m as circunstâncias os primeiros movimentos e fazem divórcio <strong>da</strong>s<br />

primeiras intenções quan<strong>do</strong> as circunstâncias os requerem e o pun<strong>do</strong>nor o<br />

persuade.<br />

Eu estou pronto para receber a senhora Florisela por esposa, se ela for<br />

disso contente e vós, senhora Ricar<strong>da</strong>, o aprovardes, para que seu crédito<br />

nunca possa padecer sombra de algum deslustre, porque muitas vezes<br />

consiste mais o crédito no recato <strong>do</strong> que na obra e na fama que na reali<strong>da</strong>de.<br />

Quem pode assegurar que se este meu repentino atrevimento chegasse à

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