17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 161<br />

moderam os costumes: e o que antigamente na gentili<strong>da</strong>de se viu, como nos<br />

exemplos referi<strong>do</strong>s e outros muitos que trazer pudera, com maior razão deve<br />

suceder na cristan<strong>da</strong>de, na qual a gravi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s cargos e digni<strong>da</strong>des, assim no<br />

eclesiástico, como no secular, serve de freio aos vícios e licencioso viver que<br />

antes havia, pela indecência que serviria de nota grande a quem não<br />

acomo<strong>da</strong>sse as obras com o ofício, os costumes com o cargo. Muitos com os<br />

cargos e digni<strong>da</strong>des se pervertem, muitos com elas se melhoram: permissões<br />

são tu<strong>do</strong> <strong>da</strong> eterna Providência que os humanos discursos não alcançam. E<br />

assim não deve queixar-se o sábio porque não alcança, o pobre porque não<br />

enriquece, o benemérito porque o não galar<strong>do</strong>am, o prudente porque o não<br />

estimam, o virtuoso porque o perseguem, o industrioso porque não melhora, à<br />

vista <strong>do</strong> nécio que sobe, <strong>do</strong> rico que se distrai, <strong>do</strong> inábil que alcança, <strong>do</strong><br />

ignorante que se estima, <strong>do</strong> vicioso que se respeita, <strong>do</strong> descui<strong>da</strong><strong>do</strong> que<br />

prospera e felicita; porque nem as estrelas e planetas com seus aspectos e<br />

influências a uns favorecem e a outros encontram, a uns amparam e a outros<br />

contradizem: disposições são tu<strong>do</strong> <strong>da</strong> Divina Providência, que a ca<strong>da</strong> qual<br />

ordena ou permite o que com sua eterna sabe<strong>do</strong>ria ele só sabe,<br />

compreenden<strong>do</strong> os fins, que nós ignoramos, a que semelhantes meios se<br />

dirigem. Ele muitas vezes permite as injustiças e desacertos para deles tirar<br />

bens, outras para <strong>da</strong>r castigo. E assim nem os que se tem por infelices devem<br />

queixar-se, nem os que se avaliam por venturosos ensoberbecer-se, pois<br />

talvez estes alcançam para seu castigo e outros não melhoram para mais<br />

ventura. Quantas árvores ou quebraram, ou arrancaram os ventos com sua<br />

violência por alterosas que puderam escapar ao rigor de suas forças se fossem<br />

humildes plantas? Na lua nunca se notariam tantas faltas e diminuições de luz<br />

se nela tantos crecimentos de antes não manifestara. Quantos edifícios<br />

arruinaram os raios nos cumes <strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s montes que deles estariam<br />

seguros a serem edifica<strong>do</strong>s e situa<strong>do</strong>s nos vales? Quantas vezes se permitiu o<br />

subir para castigo? Quantas vezes se negou para favor e ventura? Trate quem<br />

se julga por venturoso de proceder com satisfação, pois ignora o fim para que<br />

se lhe concedeu a felici<strong>da</strong>de; e não se desconsole o que se queixa de infelice,<br />

pois não alcança o fim porque se lhe negou a subi<strong>da</strong>. Lá refere Boécio 220 que<br />

Boec, Lib. 2. De consolât.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!