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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1032 Padre Mateus Ribeiro<br />

mais, pois limites tem a pena quan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> junta nas palavras cabe. Peço-vos<br />

que me aconselheis como amigo o que farei nesta aflição que padeço, que eu,<br />

como quem a sofre, confesso que por mais que discurso nem lhe descubro<br />

remédio, nem lhe encontro alivio. Só quem está no empório seguro <strong>da</strong> terra vê<br />

com sossego as tempestades <strong>do</strong> mar: quem no frágil de um baixel engolfa<strong>do</strong><br />

nas on<strong>da</strong>s com os ventos combate, com procurar o remédio, raras vezes com o<br />

remédio encontra; porque os senti<strong>do</strong>s impedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> temor, o discurso diverti<strong>do</strong><br />

com o susto, o juízo vacilante com a mágoa presente, aonde imagina que<br />

acerta, muitas vezes periga.<br />

Cap. XVII.<br />

Em que Lisar<strong>do</strong> refere os conselhos que deu a Bonifácio e como ambos se<br />

partiram para Cesena<br />

Calou Bonifácio na locução de suas mágoas, mas não no sentimento de<br />

suas tristezas, porque as palavras tinham as raízes na voz, porém as tristezas<br />

tinham a origem no coração, a quem eu respondi assim:<br />

- Na ver<strong>da</strong>de, Bonifácio amigo, que me admiro de ver-vos tão<br />

implacavelmente pesaroso por cousas que podem ter remédio facilmente. Há<br />

remédios que consistem na brevi<strong>da</strong>de, como escreve Quinto Cúrcio 1116 , e<br />

outros que pendem <strong>do</strong>s vagares, como diz Euripides 1117 . Há alguns que na<br />

celeri<strong>da</strong>de <strong>do</strong> reparo sabem desviar a tirania <strong>do</strong> golpe e há outros que deixam<br />

embotar os fios <strong>da</strong> espa<strong>da</strong> inimiga no que importa menos, para que cortar não<br />

possa, quan<strong>do</strong> importa mais. Encarecestes de Doroteia os aplausos <strong>da</strong> beleza,<br />

porque a vistes, mas a firmeza não a experimentastes. Considerastes-vos nas<br />

lisonjas de que éreis ama<strong>do</strong> e não reparastes em que podia mu<strong>da</strong>r-se com o<br />

tempo a aura <strong>do</strong> favor, não sen<strong>do</strong> a vontade humana base tão segura, nem<br />

fun<strong>da</strong>mento tão sóli<strong>do</strong> para nela se levantarem edifícios duráveis, como diz<br />

Ausónio 1118 e como escreve Plínio. Queixais-vos <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça: não sei se foi<br />

1116 Quint. Curt.,/.*. 6.<br />

1117 Euripid., in Here. fur.<br />

1118 Auson., inEg/.

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