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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 623<br />

que aborrecem; que como tão empenha<strong>da</strong>s no conseguir, qualquer melindre de<br />

temor é poderoso para as perturbar. Poucas vezes vaticinam o que agra<strong>da</strong>,<br />

muitas vezes querem prever o que mais temem; e antes de conseguirem o<br />

triunfo, são fiscais rigorosas <strong>do</strong> que esperam. Assim combati<strong>do</strong> destes<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, me retirei ao ameno sítio <strong>do</strong> palácio <strong>do</strong>s Rossis, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> diante a<br />

um <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s que fosse esperar-nos algumas léguas distante no caminho<br />

que vai a Florença.<br />

É o sítio deste grandioso vergel tão admirável que com razão se podia<br />

chamar Corte de Flora, pois se pode dizer que nele to<strong>do</strong> o ano é Primavera.<br />

Estão as copa<strong>da</strong>s árvores tão teci<strong>da</strong>s com os laços de seus ramos que<br />

parecem tol<strong>do</strong> de fina verdura, porque só ali se acha sempre a verdura mais<br />

fina. Não temiam as árvores que o rigor <strong>do</strong> Inverno as despojasse <strong>da</strong> gala<br />

vistosa de suas folhas, porque em to<strong>do</strong> o tempo <strong>do</strong> ano se mostravam delas<br />

vesti<strong>da</strong>s, como escolhi<strong>da</strong>s de diversas partes, para conservarem os ver<strong>do</strong>res<br />

contra a tirania <strong>da</strong>s neves e contra os assaltos <strong>da</strong> escarcha. As flores eram<br />

contínuas, porque em to<strong>do</strong> o tempo se mostrava Abril para a fermosura e Maio<br />

para a beleza, sen<strong>do</strong> tão diversas nas cores, no feitio e na suavi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> cheiro,<br />

que pudera o subtil pincel <strong>do</strong> insigne pintor Brietes Siccionio ter dilata<strong>do</strong>s anos<br />

que imitar, sem lhe faltar modelos o flori<strong>do</strong>. Deste pintor se conta que an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

afeiçoa<strong>do</strong> à beleza de uma moça, que tinha por ofício de que se sustentava<br />

vender ramalhetes e capelas, tomou por empenho imitar com o pincel quantas<br />

flores esquisitas ela buscava com a indústria; e assim se via sempre a<br />

Primavera presente nas mãos <strong>da</strong> moça que as flores tecia e nas de Brietes,<br />

que em competência as retratava. As fontes naturais competiam com os<br />

edifícios, com que imitan<strong>do</strong> a chuva mais aljofra<strong>da</strong>, banhavam os jardins e<br />

fertilizavam as plantas; e quan<strong>do</strong> no Estio se mostrava o sol mais ardente nos<br />

raios, se via nos jardins mais argenta<strong>da</strong> a chuva; e sen<strong>do</strong> sempre Abril para o<br />

flori<strong>do</strong>, era sempre Dezembro para o chuvoso.<br />

À vista pois deste sumptuoso edifício, recreio <strong>da</strong> vista e admiração <strong>do</strong><br />

discurso, no ameno <strong>da</strong> relva, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> retirar o cavalo, larguei as velas ao<br />

vento de minhas incertas esperanças, disposto a navegar os rumos que a<br />

fortuna me mostrasse. Competia meu desejo na grandeza com o tempo nos<br />

vagares, parecen<strong>do</strong>-me seu curso intolerável para o inquieto <strong>da</strong> esperança;<br />

porque por mais que o primeiro móvel se não descui<strong>da</strong>sse de continuar seu

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