17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

336 Padre Mateus Ribeiro<br />

porque o conde se apressava a partir para Nápoles a <strong>da</strong>r expedição aos<br />

negócios que a seu cargo tinha, foi força<strong>do</strong> despedirmo-nos de Alexandre e de<br />

Eugenia, com excessivas sau<strong>da</strong>des suas, assim pela grande amizade, como<br />

por verem que ia eu a lograr a vista de nossa pátria, de que tanto [tempo] havia<br />

eu desterra<strong>do</strong> an<strong>da</strong>va e de que eles priva<strong>do</strong>s se viam; que, como disse<br />

Euripides 336 , é pena tão grande que mais se manifesta com o sentimento<br />

interior <strong>da</strong> alma <strong>do</strong> que com as palavras exteriores <strong>da</strong> queixa. Enfim <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-nos<br />

cartas para seus pais, para Anastácia, sua irmã, e Dionísio Montal<strong>do</strong>, seu<br />

cunha<strong>do</strong>, nos partimos a Nápoles, fican<strong>do</strong> Dom Sancho com Alexandre, pois<br />

não podia entrar na corte por an<strong>da</strong>r criminoso, pelas causas já referi<strong>da</strong>s.<br />

A sestear ao fresco de uma sombria fonte que com vozes de cristal<br />

murmurava <strong>do</strong> sol, porque a não visitava com seus raios, como a outra fazia, e<br />

se queixava <strong>do</strong>s freixos que a cercavam, porque tanto com os lucros de sua<br />

corrente se engrossavam e à sua custa subiam, que lhe tiravam a vista <strong>do</strong>s<br />

montes, pagan<strong>do</strong>-lhe em sombras o que em neve bebiam; a sestear, como<br />

digo, nos apeámos, convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> ameno <strong>do</strong> sítio e <strong>da</strong> suavi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vozes<br />

com que os músicos rouxinóis a desafio em descantar seus inexplicáveis<br />

vilancicos competiam: que até nas aves há emulações de mais luzir e<br />

inculpáveis invejas de melhor cantar; quan<strong>do</strong> vimos um mancebo de flori<strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>de que ao refúgio <strong>da</strong> cristalina fonte descansan<strong>do</strong> estava, tão triste na<br />

aparência e tão suspenso no êxtase natural de suas próprias imaginações que,<br />

ain<strong>da</strong> avizinhan<strong>do</strong>-nos ao sítio, pouco em nós advertia.<br />

Enfim recor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> letargo de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, lançan<strong>do</strong> mão de uma<br />

trouxa pequena em que tinha alguns livros e ao que parecia um vesti<strong>do</strong> de<br />

estu<strong>da</strong>nte, quis de cortês <strong>da</strong>r-nos o lugar com ausentar-se <strong>da</strong> fonte. O que eu e<br />

o conde lhe não consentimos, antes lhe pedimos se assentasse. O que ele fez<br />

mais obriga<strong>do</strong> de nosso gosto <strong>do</strong> que de sua vontade. Repartimos <strong>do</strong> jantar<br />

com ele e, levanta<strong>da</strong> a mesa, lhe perguntei <strong>do</strong>nde vinha e para onde<br />

caminhava. Respondeu que vinha de Nápoles e ia para casa de seus pais, que<br />

era uma pequena aldeia junto à ci<strong>da</strong>de de Cápua, ribeira <strong>do</strong> rio Vultumo, e que<br />

haven<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>do</strong> em Nápoles alguns anos, deixava os desvelos <strong>da</strong>s letras e<br />

Eurip., in Phœnis.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!