17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

612 Padre Mateus Ribeiro<br />

alguma hora li, quan<strong>do</strong> meus sentimentos me concediam mais espaço a folheá-<br />

los, que as lágrimas depois me proibiram.<br />

Condenan<strong>do</strong> Dário, rei <strong>do</strong>s persas, à morte a Intafernes, ilustre persiano,<br />

e juntamente com ele a seu filho e cunha<strong>do</strong>, irmão de sua mulher, por um<br />

desacato grande que no paço cometeram, e movi<strong>do</strong> à compaixão <strong>da</strong>s<br />

lastimosas lágrimas que a mulher, mãe e irmã <strong>do</strong>s condena<strong>do</strong>s derramavam,<br />

lhe deu que <strong>do</strong>s três escolhesse um, a quem por amor dela concederia a vi<strong>da</strong>;<br />

e ela escolheu a seu irmão para que vivesse. De que admiran<strong>do</strong>-se o rei, e<br />

ven<strong>do</strong> pela razão que ela <strong>da</strong>va que discretamente escolhera, concedeu<br />

também a vi<strong>da</strong> ao filho. Seleuco, filho de Antíoco Magno, tanto que tomou<br />

posse <strong>do</strong> reino de Assíria, para livrar a seu irmão Antíoco, o moço, que estava<br />

prisioneiro em Roma e <strong>da</strong><strong>do</strong> em reféns desde o tempo <strong>da</strong>s guerras de seu pai,<br />

man<strong>do</strong>u a Demétrio, seu próprio filho, a Roma, para ficar nela prisioneiro, por<br />

<strong>da</strong>r a liber<strong>da</strong>de a seu irmão. Queixou-se o romano Marco António de sua mãe<br />

que em querer impetrar a vi<strong>da</strong> a Lúcio António, seu irmão e tio de Marco<br />

António, que com Lépi<strong>do</strong> e Augusto César o tinham proscrito e à morte<br />

condena<strong>do</strong>, se mostrara ter tanto de mãe cruel como de irmã pie<strong>do</strong>sa, pois a<br />

troco de conservar a vi<strong>da</strong> a seu irmão, deixava um inimigo perpétuo contra seu<br />

filho.<br />

Pois se o amor <strong>do</strong>s irmãos é tão poderoso, como poderei eu persuadir-<br />

me a receber por esposo a quem ficou <strong>do</strong> próprio sangue de meu irmão<br />

mancha<strong>do</strong>? Darei eu a mão de esposa a quem foi o verdugo de sua malogra<strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e no mais flori<strong>do</strong> <strong>do</strong>s anos cortou em flor tão lustrosas esperanças? Terão<br />

porventura meus olhos, de lágrimas eclipsa<strong>do</strong>s, luz para verem a quem foi o<br />

motivo cruel de eu derramá-las? Que segurança poderei ter de viver de umas<br />

portas adentro com quem em meu sangue banhou a espa<strong>da</strong>? E que diria o<br />

mun<strong>do</strong>, registro <strong>da</strong>s acções e censor rigoroso ain<strong>da</strong> <strong>do</strong>s pensamentos, ven<strong>do</strong><br />

que, em lugar <strong>do</strong> castigo, recebia Júlio o prémio de alcançar-me por esposa?<br />

Porque suposto que antes deste homicídio pudesse merecer muito, hoje, no<br />

esta<strong>do</strong> presente, para to<strong>do</strong> o merecimento está inábil. Se meu pai, o senhor<br />

Octávio, quer, movi<strong>do</strong> de pie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>r-lhe perdão, eu não lho impi<strong>do</strong>. E se o<br />

senhor lega<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r quiser <strong>da</strong>r-lhe a vi<strong>da</strong>, poderes tem para fazê-lo.<br />

Porém que eu haja de <strong>da</strong>r consentimento em admiti-lo por esposo, nem a <strong>do</strong>r<br />

mo permite, nem a causa o requer, nem o derrama<strong>do</strong> sangue de meu irmão o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!