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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 383<br />

Jerónimo que nem os merecimentos se adquirem sem trabalhos, nem estes se<br />

devem avaliar por grandes quan<strong>do</strong> por eles a eterni<strong>da</strong>de se adquire.<br />

Com notável alegria lhe rendeu o Peregrino Dionísio as graças <strong>do</strong> favor<br />

que recebia em querer acompanhá-lo nesta pia jorna<strong>da</strong>, pois sua prudência era<br />

de tanta estimação quanto ele em sua companhia tinha experimenta<strong>do</strong>.<br />

- To<strong>da</strong> a nossa vi<strong>da</strong> ensina o Padre Santo Agostinho (disse o Ermitão)<br />

ser uma perpétua peregrinação e uma repeti<strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> em que an<strong>da</strong>mos sobre<br />

a terra, sem ter <strong>do</strong>micílio seguro quem só no céu tem seu próprio descanso, e<br />

assim não é novi<strong>da</strong>de o peregrinar quem sempre an<strong>da</strong> no mun<strong>do</strong> peregrino. O<br />

Séneca disse que para o sábio era pátria to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, mas para o virtuoso<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é desterro enquanto se dilata o chegar à nossa ver<strong>da</strong>deira pátria.<br />

Assim discursan<strong>do</strong> nesta matéria se resolveram em partirem na<br />

madruga<strong>da</strong> <strong>do</strong> seguinte dia a <strong>da</strong>r princípio à sua romaria.<br />

Cap. II.<br />

Como os nossos romeiros partiram <strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> e <strong>do</strong> encontro que no caminho<br />

tiveram<br />

Apareceu a aurora com os prelúdios de sua luz entre as confusas luzes<br />

<strong>da</strong> sombria noite que, ressenti<strong>da</strong> de perder a posse em que estivera, se movia<br />

com passos tão lentos e vagarosos, que se por temor <strong>da</strong> vizinhança <strong>do</strong> dia se<br />

despedia, bem mostrava quanto violenta<strong>da</strong> o campo deixava. Sen<strong>do</strong> a aurora<br />

tão antiga como o sol, ca<strong>da</strong> vez nasce mais bela; que não sente os defeitos <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>de quem sempre de novo nascen<strong>do</strong> não excede os termos <strong>da</strong> meninice.<br />

Pouco valor tivera a aurora para desterrar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> os poderes <strong>da</strong> noite se lhe<br />

não deram socorro os valentes resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol que de to<strong>do</strong> a põem em<br />

fugi<strong>da</strong>, porque ao assalto de tão brilhantes raios mal podiam resistir sem retirar-<br />

se as sombras. A este tempo, pois que a purpúrea cortina <strong>do</strong> horizonte<br />

começava a vestir o mun<strong>do</strong> de alegria, haven<strong>do</strong> o Ermitão encomen<strong>da</strong><strong>do</strong> as<br />

chaves e cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> sua ermi<strong>da</strong> a um amigo seu <strong>do</strong> lugar mais vizinho<br />

enquanto durasse a devota jorna<strong>da</strong> que faziam, saíram os <strong>do</strong>us romeiros a <strong>da</strong>r

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