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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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208 Padre Mateus Ribeiro<br />

Deus nos chama para que o amemos muitas vezes são agravos <strong>do</strong> ódio com<br />

que as criaturas a quem mais amor temos nos ofendem, que muitas vezes<br />

chama Deus com sentimentos e desgostos àqueles que porventura não<br />

acudiram se com brandura e felici<strong>da</strong>des os chamasse. A côngrua vocação de<br />

seus auxílios, os meios por onde atrai, somente sua eterna Providência alcança<br />

o que nossa ignorância conhecer não pode.<br />

No que toca à vingança de vossos ofensores, que maior castigo quereis<br />

que seu mesmo delito? E na ver<strong>da</strong>de por mais fácil se julga acabar de uma vez<br />

a vi<strong>da</strong> que vê-la dilata<strong>da</strong> com perpétuos temores; que vi<strong>da</strong> com trabalhos<br />

contínuos só pode desejá-la quem com a morte não se atreve. Discretamente<br />

disse Quintiliano 275 que o temor costuma fazer as cousas ain<strong>da</strong> mais<br />

desabri<strong>da</strong>s <strong>do</strong> que eram. São Gregório Papa 276 lhe chamou testemunha<br />

perpétua <strong>do</strong>s delitos; e o grande Agostinho o intitulou verdugo <strong>da</strong> alma que<br />

continuamente serve de atormentá-la, ain<strong>da</strong> em meio de suas maiores alegrias.<br />

Que inquieto trazia o temor a Dionísio, tirano de Sicília, que em meio de suas<br />

prosperi<strong>da</strong>des e delícias de tal sorte o atormentava que (como refere Marco<br />

Túlio 277 ) cercou o leito e camera em que <strong>do</strong>rmia com largo fosso, como<br />

fortaleza, retiran<strong>do</strong>-se ao leito com ponte de madeira levadiça, aonde o sono<br />

era inquieto e o descanso atribula<strong>do</strong>, mais parecen<strong>do</strong> capitão cerca<strong>do</strong> que<br />

monarca poderoso! Masinissa, rei de Numídia, assim vivia intimi<strong>da</strong><strong>do</strong> que, não<br />

se confian<strong>do</strong> já <strong>da</strong> guar<strong>da</strong> <strong>do</strong>s homens para repousar com segurança, se<br />

cercava de cães que para este efeito tinha, em cuja fiel vigilância o penoso<br />

descanso confiava; e servia de guar<strong>da</strong> e companhia a um rei tão poderoso a<br />

que muitas vezes seria molesta a um pastor de ga<strong>do</strong>. Assim o refere Valério<br />

Máximo 278 . Pois se um temor tanto inquieta, se um receio tanto perturba, como<br />

não será avalia<strong>do</strong> por castigo grande o temor que a vossos ofensores<br />

continuamente segue? Se não pode ser aprazível a fermosura <strong>do</strong> campo<br />

quan<strong>do</strong> mais flori<strong>do</strong> e matiza<strong>do</strong> na Primavera a quem com temores vê as<br />

diversas cores de matizes; se a conversação mais discreta, a música mais<br />

Quintil., Declam. 11.<br />

Greg. P., Lib. 2. Moral.<br />

Cicer., Tusculan. 5.<br />

Vai. Max., Lib. 9.

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