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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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280 Padre Mateus Ribeiro<br />

capitania que tinha e com as autoriza<strong>da</strong>s certidões de meus serviços que à<br />

custa <strong>do</strong> dispêndio de meu sangue fizera. Fui em Nápoles de to<strong>do</strong>s festeja<strong>do</strong><br />

com os parabéns de meus argumentos, com lágrimas de alegria de meus pais,<br />

com excessivo alvoroço de minha irmã, visitei a academia em que havia<br />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, e de to<strong>do</strong>s era festeja<strong>do</strong> e benquisto, que não é pouco ser benquisto<br />

<strong>do</strong> povo, porque não só pende de obrar e proceder com satisfação, mas<br />

juntamente <strong>da</strong> ventura, sen<strong>do</strong> até o excessivo bem obrar talvez ao vulgo<br />

aborreci<strong>do</strong>.<br />

A lei <strong>do</strong> ostracismo que tinham os atenienses era a em que desterravam<br />

por dez anos fora de Atenas as pessoas mais eminentes, porque não<br />

afectassem levantar-se com o senhorio. Era Aristides insigne capitão e tão<br />

justifica<strong>do</strong> nas obras que lhe chamavam por sobrenome o justo. E como para o<br />

desterro haviam de ser os votantes seis mil de Atenas e seus arrabaldes, veio<br />

um lavra<strong>do</strong>r e pediu a Aristides, sem conhecê-lo, lhe escrevesse o nome de<br />

Aristides para o lançar no seu voto. Perguntou-lhe ele se lhe tinha o capitão<br />

Aristides feito algum agravo. Ao que respondeu o lavra<strong>do</strong>r que não, nem ele o<br />

tinha visto, mas que votava em que fosse desterra<strong>do</strong> porque lhe enfa<strong>da</strong>va<br />

to<strong>do</strong>s o nomearem por justo e se cansava de ouvir tantra bon<strong>da</strong>de e louvores<br />

seus. Escreveu-lhe Aristides, sem <strong>da</strong>r-se a conhecer, o voto e foi desterra<strong>do</strong> de<br />

Atenas.<br />

Celebravam-se em Nápoles umas festas grandes, cousa mui ordinária<br />

naquela corte, e an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> eu na praça a pé ven<strong>do</strong> as armações custosas de<br />

que estava a<strong>do</strong>rna<strong>da</strong> e festejos que nela havia, vin<strong>do</strong> passan<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>nça de<br />

mascara<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s de uma cor vesti<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> por junto <strong>do</strong>nde eu estava<br />

com outros cavaleiros, gente principal, me deu um <strong>do</strong>s mascara<strong>do</strong>s uma<br />

bofeta<strong>da</strong> repentinamente sem com ele haver ti<strong>do</strong> palavra ou encontro algum.<br />

Vedes, senhores, qual eu ficaria com tão inopina<strong>do</strong> sucesso? Levei <strong>da</strong> espa<strong>da</strong><br />

e a<strong>da</strong>ga e os que estavam comigo, e como os mascara<strong>do</strong>s se baralharam uns<br />

com outros entre a muita gente que na praça assistia, e eu não podia conhecer<br />

qual era o que me havia ofendi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> um só o agressor <strong>do</strong> agravo, foram<br />

para mim ofensores to<strong>do</strong>s, e assim dei morte a três e feri outros a quem sua<br />

desgraça pôs máscara este dia, que talvez há desgraças que se comunicam,<br />

como venturas que se repartem.

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